Quando
chegou a Urû’baen com Saphira, Eragon ficou surpreendido ao descobrir que
Nasuada lhe devolvera o nome
de
Ilirea, por respeito à sua história e ao seu legado.
Ficou
também consternado ao saber que Arya partira para
Ellesméra,
na companhia de Däthedr e de muitos outros elfos da
alta
nobreza, e que levara consigo o ovo de dragão verde que
tinham
encontrado na cidadela.
Deixara-lhe
uma carta com Nasuada, na qual lhe explicava que
precisava
de acompanhar o corpo da mãe de regresso a Du
Weldenvarden,
para lhe fazer um enterro digno. Em relação ao ovo
de
dragão, escrevera:
...
e porque Saphira te escolheu a ti, um humano, como seu
Cavaleiro,
é perfeitamente justo que o próximo Cavaleiro seja um
elfo,
se o dragão dentro do ovo concordar. Quero dar-lhe essa
possibilidade
sem mais demoras.
Já
passou tempo de mais dentro da casca e uma vez que há
muitos
mais ovos noutro local — não vou dizer onde — espero que
não
penses que agi por presunção ou preconceito exacerbado a
favor
da minha raça. Consultei os Eldunarís sobre este assunto e
eles
concordaram com a minha decisão.
Seja
como for, já não é meu desejo continuar a ser embaixatriz
dos
Varden, agora que Galbatorix e a minha mãe mergulharam no
vazio.
Prefiro voltar a assumir a tarefa de transportar um ovo de
dragão
pelo território, tal como fiz com Saphira. É claro que
continuamos
a precisar de um embaixador entre as nossas raças,
por
isso Däthedr e eu nomeámos um jovem elfo chamado Vanir
para
me substituir. Conheceste-o durante a tua estadia em
Ellesméra.
Ele revelou o desejo de saber mais sobre o povo da tua
raça
e parece-me ser um motivo tão bom como qualquer outro
para
que lhe seja concedido esse lugar — isto é, desde que não se
revele
totalmente incompetente.
A
carta tinha mais algumas linhas, mas Arya não mencionava
quando
voltaria, nem mesmo se regressaria à zona oeste de
Alagaësia.
Eragon ficou satisfeito pelo fato de ela se preocupar o
suficiente
com ele para lhe escrever, mas desejou que tivesse
esperado
que eles regressassem antes de partir. Sem ela, parecia
haver
um buraco no seu mundo e, embora tivesse passado algum
tempo
com Roran, Katrina e com Nasuada, o vazio doloroso que
sentia
parecia não passar. Isso, aliado ao fato de sentir
constantemente
que Saphira e ele estavam apenas a passar tempo,
deixou-o
com uma sensação de desprendimento. Muitas vezes era
como
se estivesse a observar-se a si mesmo fora do corpo, como
um
estranho. Entendia a causa dos seus sentimentos, mas não lhe
ocorria
outra cura senão o tempo.
Durante
a última viagem lembrara-se que poderia remover de
Elva
os últimos vestígios da bênção que acabara por se revelar uma
maldição,
associando o nome dos nomes ao fraseado na língua
antiga.
Por isso foi ter com a menina ao grande palácio de
Nasuada,
onde esta agora vivia, e transmitiu-lhe a sua ideia,
perguntando-lhe
o que ela pretendia.
Ela
não reagiu com a satisfação que ele esperava, mas ficou
sentada,
de olhos pregados no chão, com uma expressão
carregada.
Durante quase uma hora não disse uma palavra e
Eragon
ficou sentado à sua frente, a aguardar, sem reclamar.
Depois,
ela olhou-o e disse:
—
Não, prefiro ficar como estou... Sinto-me grata por te teres
lembrado
de perguntar, mas isto é grande parte de mim pelo que eu
não
posso abrir mão. Sem a minha aptidão para sentir a dor dos
outros
não passaria de um bicho raro — uma miserável aberração,
sem
outro préstimo que não satisfazer a curiosidade reles daqueles
que
aceitaram ter-me por perto, daqueles que toleram a minha
presença.
Com esta aptidão continuo a ser uma aberração, mas
também
posso ser útil, ser dona de um poder que os outros temem
e
controlar o meu próprio destino, algo que muita gente do meu
sexo
não pode. — Fez um gesto para o quarto ornamentado onde
dormia.
— Aqui, posso viver confortavelmente — viver em paz — e,
ao
mesmo tempo, continuar a fazer algo de útil, ajudando Nasuada.
O
que me restaria, se me despojasses da minha aptidão? O que
faria?
O que seria? Removeres o teu feitiço não seria uma bênção,
Eragon.
Não, ficarei como estou e suportarei as provações do meu
dom
de livre vontade. Mas, agradeço-te.
Dois
dias depois de ele e Saphira aterrarem na cidade que dava
agora
pelo nome de Ilirea, Nasuada voltou a mandá-los partir,
primeiro
para Gil’ead e depois para Ceunon — as duas cidades que
os
Elfos tinham conquistado — para que Eragon usasse, mais uma
vez,
o nome dos nomes para eliminar os feitiços de Galbatorix.
Tanto
Eragon como Saphira acharam a visita a Gil’aed
desagradável,
pois lembrava-lhes a altura em que os Urgals tinham
capturado
Eragon, por ordem de Durza, assim como a morte de
Oromis.
Eragon
e Saphira dormiram três noites em Ceunon. Era uma
cidade
diferente de todas as outras que tinham visto. Os edifícios
eram
feitos, em grande parte, de madeira, com telhados íngremes,
cobertos
de tabuinhas que — nas casas maiores — se distribuíam em
várias
camadas. Muitos dos topos dos telhados estavam decorados
com
uma escultura estilizada de uma cabeça de dragão e as portas
eram
entalhadas ou pintadas com intrincados padrões semelhantes
a
nós.
Quando
partiram, foi Saphira que sugeriu um desvio. Não teve
de
se esforçar muito para convencer Eragon, pois este concordou
de
bom grado, logo que ela lhe explicou que essa viagem não iria
demorar
muito.
De
Ceunon, Saphira voou para Oeste, ao longo da Baía de
Fundor:
uma extensão de água salpicada de cristas brancas.
Corcundas
cinzentas e negras de grandes peixes de mar, rompiam
as
ondas como pequenas ilhas coriáceas, projetando jatos de água
dos
opérculos e erguendo as caudas bem alto no ar, antes de
voltarem
a deslizar para as profundezas silenciosas do oceano.
Atravessaram
a Baía de Fundor, enfrentando ventos frios e
tempestuosos
e, depois, as montanhas da Espinha, cujos nomes
Eragon
conhecia, viajando até ao Vale de Palancar, pela primeira
vez
desde que tinham partido com Brom para perseguir os Ra’zac,
aparentemente
há uma eternidade.
Eragon
sentiu-se em casa, quando o aroma do vale lhe chegou.
O
cheiro dos pinheiros, dos salgueiros e das bétulas recordava-lhe
a
infância e o frio cortante prenunciava a chegada do inverno.
Aterraram
nas ruínas carbonizadas de Carvahall e Eragon
vagueou
ao longo das ruas inundadas de vegetação e de ervas
daninhas,
de ambos os lados.
Uma
matilha de cães selvagens saiu a correr de um aglomerado
de
bétulas, ali perto. Ao verem Saphira pararam. Depois rosnaram,
ganiram
e fugiram para se esconder. Saphira rosnou e deixou
escapar
uma baforada de fumaça, mas não fez qualquer gesto para os
perseguir.
Um
pedaço de madeira queimada estalou debaixo do pé de
Eragon,
ao arrastar a bota sobre um amontoado de cinzas. A
destruição
da vila deixou-o melancólico. Mas a maior parte dos
aldeões
que tinha escapado estavam vivos e Eragon sabia que eles
iriam
reconstruir Carvahall e fazer dela um sítio melhor do era.
Porém,
os edifícios entre os quais crescera tinham desaparecido
para
sempre. A sua ausência exacerbava nele a ideia de que o seu
lugar
já não era no Vale de Palancar e os espaços vazios onde
antigamente
se erguiam, alimentavam-lhe uma sensação de que
nada
ali batia certo, como se vivesse um sonho em que tudo
estivesse
desequilibrado.
“O
mundo está desconjuntado”, murmurou ele.
Eragon
fez uma pequena fogueira junto do local onde ficava a
taberna
de Morn e preparou uma grande panela de guisado.
Enquanto
comia, Saphira vagueou pelas imediações, farejando tudo
o
que achava interessante.
Depois
Eragon levou a panela, a tigela e a colher até ao Rio
Anora
e lavou-os na água gelada. Acocorou-se na margem rochosa
e
ficou a observar a coluna branca e nevoenta ao cimo do vale: as
Cataratas
de Igualda, que se erguiam a uma altura de quatrocentos
metros,
antes de desaparecerem sobre uma saliência de pedra, no
alto
da Montanha de Narnmor. E recordou a noite em que
regressara
da Espinha com o ovo de Saphira na mochila, sem saber
o
que os esperava a ambos, nem sequer o que iriam ser.
—
Vamos embora — disse ele a Saphira, reunindo-se a ela, junto
do
poço desmoronado, no centro da vila.
Não
queres visitar a tua quinta?, perguntou-lhe ela, enquanto ele
subia
para o seu dorso.
Ele
abanou a cabeça.
—
Não. Prefiro pensar nela como era e não como está agora.
Ela
concordou. Contudo, voou para Sul, com o acordo tácito de
Eragon,
seguindo o mesmo caminho que tinham tomado ao
partirem
do Vale de Palancar. Durante o percurso, Eragon teve um
vislumbre
da clareira onde outrora se erguia a sua casa, mas estava
tão
distante e encoberta pelas sombras que ele fingiu acreditar que
a
casa e o celeiro poderiam manter-se intactos.
No
extremo Sul do vale, uma coluna de ar ascendente
transportou
Saphira até ao pico de Urgard, a grande montanha
despida
de vegetação, onde ficava o torreão em ruínas que os
Cavaleiros
tinham construído para vigiar Palancar, o rei louco. O
torreão
fora em tempos conhecido como Edoc’sil, mas agora
chamava-se
Ristvak’baen ou o “Sítio da Mágoa”, pois fora aí que
Galbatorix
matara Vrael.
Nas
ruínas do torreão, Eragon, Saphira e os Eldunarís que
estavam
com eles prestaram homenagem à memória de Vrael.
Umaroth
estava particularmente taciturno, mas disse:
Obrigado
por me trazeres aqui, Saphira. Nunca pensei ver o
local
onde o meu Cavaleiro morreu.
Depois,
Saphira abriu as asas, lançou-se do torreão e afastou-se
do
vale, sobrevoando as planícies verdejantes.
A
meio caminho de Ilirea, Nasuada contatou-os através de um
dos
feiticeiros dos Varden, ordenando-lhes que se reunissem a um
grande
grupo de guerreiros que enviara da capital em direção a
Teirm.
Eragon
ficou satisfeito por saber que era Roran que comandava
os
guerreiros e que nas suas fileiras estavam Jeod e Baldor — que
recuperara
a mobilidade da mão depois dos Elfos a unirem ao seu
braço
— bem como alguns dos outros aldeões.
Para
surpresa de Eragon, o povo de Teirm não quis render-se,
nem
mesmo depois de os libertar dos seus juramentos de lealdade
a
Galbatorix. E, embora fosse óbvio que os Varden, se quisessem,
poderiam
conquistar a cidade com a ajuda de Saphira e de Eragon,
Lorde
Risthart, o governador de Teirm, ainda exigiu que lhe
concedessem
a independência como cidade-estado, com liberdade
para
escolher os seus próprios governantes e promulgar as suas
próprias
leis.
Depois
de vários dias de negociações, Nasuada concordou com
os
seus termos, desde que Lorde Risthart — à semelhança de Orrin —
lhe
jurasse lealdade como rainha suprema e aceitasse acatar as suas
leis
acerca de feiticeiros.
Depois
de Teirm, Eragon e Saphira acompanharam os guerreiros
ao
longo da estreita costa, em direção ao Sul, até chegarem à
cidade
de Kuasta. Repetiram o processo de Teirm mas, ao
contrário
desta, o governador de Kuasta rendeu-se, concordando
reunir-se
ao novo reino de Nasuada.
Eragon
e Saphira voaram depois sozinhos para Narda, no
Norte,
obtendo da cidade o mesmo voto de lealdade, antes de
regressarem
a Ilirea onde ficaram durante algumas semanas, num
palácio
junto do de Nasuada.
Assim
que o tempo lhes permitiu, Eragon e Saphira
abandonaram
a cidade e foram ao castelo onde Blödhgarm e os
outros
feiticeiros vigiavam os Eldunarís que tinham resgatado a
Galbatorix,
reunindo-se aos esforços dos Elfos para curarem as
mentes
dos dragões. Fizeram alguns progressos, mas foi um
processo
lento e alguns dos Eldunarís reagiram mais depressa do
que
outros. Mas Eragon estava preocupado, pois muitos já não
davam
valor à vida, ou estavam de tal forma perdidos nos labirintos
das
suas mentes que era quase impossível comunicar com eles de
forma
inteligível, mesmo para os dragões mais velhos, como Valdr.
Para
evitar que as centenas de dragões enlouquecidos dominassem
aqueles
que os tentavam ajudar, os Elfos mantinham a maior parte
dos
Eldunarís numa espécie de transe, optando por interagir apenas
com
alguns de cada vez.
Eragon
colaborara também com os feiticeiros de Du Vrangr
Gata
para despojar a cidadela dos seus tesouros. Grande parte do
trabalho
recaiu sobre ele, pois nenhum dos outros feiticeiros tinha
os
conhecimentos nem a experiência necessária para lidar com
muitos
dos objetos encantados que Galbatorix deixara. Mas
Eragon
não se importava, visto que lhe agradava explorar a
fortaleza
danificada e descobrir os segredos escondidos no seu
interior.
Galbatorix colecionara uma imensidão de maravilhas ao
longo
do último século, algumas mais perigosas do que outras, mas
todas
interessantes. A preferida de Eragon era um astrolábio que se
se
aproximasse do olho permitia ver as estrelas, mesmo durante o
dia.
Eragon guardou segredo da existência dos artefatos mais
perigosos,
partilhando-o apenas com Saphira e Nasuada, na
medida
em que considerou demasiado arriscado permitir que
outros
soubessem.
Nasuada
deu uso imediato ao tesouro de riquezas que tinham
recuperado
da cidadela, alimentando e vestindo os seus guerreiros,
e
reconstruindo as defesas das cidades que tinham conquistado
durante
a invasão do Império. Além disso, doou cinco coroas de
ouro
a todos os seus súbditos: uma quantia insignificante para os
nobres,
mas uma verdadeira fortuna para os agricultores mais
pobres.
Eragon sabia que esse gesto lhe permitira conquistar o
respeito
e a lealdade, de uma forma que Galbatorix jamais
entenderia.
Recuperaram
também várias centenas de espadas de Cavaleiros:
espadas
de todas as cores e feitios, forjadas por humanos e Elfos.
Tinha
sido uma descoberta emocionante. Eragon e Saphira
transportaram
pessoalmente as armas para o castelo onde os
Eldunarís
estavam, antecipando o dia em que seriam de novo
necessárias
aos Cavaleiros.
Rhunön
ficaria satisfeita por saber que grande parte das suas
obras
tinha sobrevivido.
Havia
também centenas de pergaminhos e livros que Galbatorix
colecionara
e que os Elfos e Jeod ajudaram a catalogar, pondo de
parte
aqueles que continham segredos sobre os Cavaleiros ou
sobre
o funcionamento interno da magia.
Enquanto
organizavam o enorme tesouro de conhecimento de
Galbatorix,
Eragon estava sempre à espera que encontrassem
alguma
referência ao local onde o rei escondera o resto dos ovos
dos
Lethrblaka. Contudo, as únicas referências aos Lethrblaka ou
aos
Ra’zac que viu estavam em obras dos Elfos e dos Cavaleiros,
de
há várias décadas atrás, nas quais debatiam a ameaça escura da
noite
e o que fazer em relação a qualquer inimigo que não pudesse
ser
detetado com qualquer tipo de magia.
Sabendo
que podia falar abertamente com Jeod, Eragon deu
consigo
a interpelá-lo com regularidade, confidenciando-lhe tudo o
que
se passara com os Eldunarís e os ovos, e chegando mesmo a
relatar-lhe
o processo de descoberta do seu verdadeiro nome, em
Vroengard.
Falar com Jeod era consolador, especialmente pelo
fato
de ser um dos poucos que conhecera Brom suficientemente
bem
para lhe poder chamar amigo.
De
uma forma algo abstrata, Eragon achava interessante
observar
o que se ia passando a nível da governação e da
reconstrução
do reino que Nasuada erguera dos restos do Império.
Gerir
um país tão grande e diversificado exigia um esforço
tremendo
e a tarefa nunca parecia estar terminada, pois havia
sempre
algo mais que tinha de ser feito. Eragon sabia que teria
abominado
as exigências do cargo, mas Nasuada parecia florescer
com
elas. A sua energia jamais esmorecia e parecia saber sempre
como
resolver os problemas com que se deparava. Dia após dia,
via
o seu prestígio aumentar entre os emissários, funcionários,
nobres
e plebeus com quem lidava, embora não soubesse ao certo
até
que ponto se sentia realmente feliz, e isso preocupava-o.
Viu
a forma como julgara os nobres que tinham trabalhado com
Galbatorix
— de livre vontade ou não —, e aprovou a justiça e a
clemência
que demonstrou, bem como os castigos imputados
sempre
que necessário. Despojou a maioria das suas terras, títulos
e
de uma boa parte das suas riquezas mal adquiridas, mas não os
mandou
executar, o que Eragon apreciou.
Estava
a seu lado quando ela concedeu a Nar Garzhvog e ao
seu
povo vastas extensões de terra, ao longo da costa norte da
Espinha,
bem como as planícies férteis entre o lago Fläm e o Rio
Toark,
onde quase ninguém vivia atualmente, e também aprovou.
Nar
Garzhvog jurara lealdade a Nasuada como sua rainha
suprema,
tal como o rei Orrin e Lorde Risthart, contudo o enorme
Kull
disse:
—
O meu povo concorda com isto, Senhora Vigia-da-Noite, mas
tem
sangue espesso e memória curta pelo que não se deixará
prender
eternamente por palavras.
Nasuada
respondeu-lhe num tom frio:
—
Você está a insinuar que o teu povo quebrará a paz? Deverei
concluir
que as nossas raças voltarão a ser inimigas?
—
Não — respondeu Garzhvog, abanando a sua enorme cabeça.
—
Não é nossa intenção combater-te, pois sabemos que Espada de
Fogo
nos mataria, mas... quando os nossos jovens crescerem, vão
desejar
afirmar-se em combate. Se não houver batalhas, eles irão
provocá-las.
Lamento, Vigia-da-Noite, mas não podemos mudar o
que
somos.
Eragon
ficou perturbado com a conversa — Nasuada também — e
passou
várias noites a pensar nos Urgals, na tentativa de descobrir
uma
solução para aquele problema.
As
semanas foram passando e Nasuada continuou a enviar
Eragon
e Saphira a várias localidades dentro de Surda e do seu
reino,
usando-os frequentemente como seus representantes, junto
do
rei Orrin, de lorde Risthart e dos outros nobres e grupos de
soldados
em todo o território.
Para
onde quer que fossem, eles procuravam um local que
pudesse
servir de lar aos Eldunarís nos séculos vindouros e de local
de
nidificação e campo de treino para os dragões escondidos em
Vroengard.
Havia áreas na Espinha que pareciam promissoras, mas
a
maioria estava demasiado perto de humanos ou de Urgals, ou
ficava
tão a Norte que Eragon achou que seria terrível viver aí
durante
o ano inteiro. Além disso, Murtagh e Thorn tinham seguido
para
Norte, e Eragon e Saphira não queriam arranjar-lhes mais
problemas.
As
Montanhas Beor seriam perfeitas, mas parecia pouco
provável
que os Anões vissem com bons olhos a ideia de ter
centenas
de dragões esfomeados a nascer dentro dos limites do seu
reino.
Qualquer que fosse o local para onde se dirigissem, nas
Beors,
estariam sempre a um breve voo de uma ou mais cidades
dos
Anões, e não seria nada bom se um jovem dragão começasse
a
atacar os rebanhos de Feldûnost dos Anões — o que Eragon
considerou
bastante provável, pelo que conhecia de Saphira.
Os
Elfos certamente que não se importariam que os dragões
vivessem
numa das montanhas de Du Weldenvarden, ou perto, mas
ainda
assim Eragon receava a sua proximidade das cidades dos
Elfos.
Além disso, desagradava-lhe a ideia de colocarem os
dragões
e os Eldunarís dentro do território de qualquer raça, pois
ao
fazê-lo dariam a impressão de estar a favorecer essa raça em
particular.
Os Cavaleiros do passado nunca o tinham feito e — no
seu
ponto de vista — os Cavaleiros do futuro também não o
deveriam
fazer.
O
único local suficientemente distante de todas as vilas e
cidades,
e que nenhuma raça reclamara até à data, era o lar
ancestral
dos dragões: o coração do Deserto de Hadarac, onde se
erguiam
as Du Fells Nángoröth, as Montanhas Malditas. Eragon
achava
que seria um excelente local para fazer criação. Porém,
tinha
três inconvenientes. Primeiro: no deserto não conseguiriam
encontrar
comida suficiente para alimentar os jovens dragões.
Saphira
teria de passar grande parte do seu tempo a transportar
veados
e outros animais selvagens para as montanhas. Além disso,
logo
que as crias começassem a crescer teriam de voar sozinhas, o
que
as levaria a aproximarem-se de territórios dos humanos, Elfos
ou
Anões. Segundo: qualquer pessoa medianamente viajada — e
mesmo
que não o fosse — sabia onde ficavam as montanhas. E
terceiro:
Não era muito difícil alcançar as montanhas, especialmente
no
inverno. As duas últimas situações eram as que mais o
preocupavam
e compeliam-no a interrogar-se se seriam realmente
capazes
de proteger os ovos, as crias e os Eldunarís
convenientemente.
Seria
melhor se estivéssemos no alto de um dos picos das
Montanhas
Beor, onde apenas um dragão pode chegar, disse ele a
Saphira.
Aí ninguém poderia surpreender-nos, a não ser Thorn,
Murtagh
ou outro feiticeiro.
Outro
feiticeiro, tipo todos os Elfos em Alagäesia, não? Além
disso
estaria sempre frio!
Julgava
que o frio não te incomodava.
E
não me incomoda, mas também não quero viver na neve todo
o
ano. Glaedr disse-me que a areia é melhor para as escamas.
Ajuda
a poli-las e mantém-nas limpas.
Mmm.
O
tempo estava a arrefecer de dia para dia. As árvores perdiam
as
folhas e os bandos de aves partiam para Sul, para passar o resto
do
ano. E assim o inverno desceu sobre a terra. Era um inverno
cruel
e agreste e, durante muito tempo, foi como se toda a
Alagaësia
estivesse adormecida. Aos primeiros sinais de neve, Orik
regressou
com o seu exército às Montanhas Beor e todos os Elfos
que
ainda estavam em Ilirea — exceto Vanir, Blödhgarm e os seus
dez
feiticeiros — partiram para Du Weldenvarden. Os Urgals tinham
ido
semanas antes. Os últimos a partirem foram os meninos-gatos,
que
simplesmente pareceram sumir-se. Ninguém os viu partir e, no
entanto,
um dia todos tinham desaparecido, exceto um homemgato,
anafado,
chamado Olhos Amarelos, que ficava sentado numa
almofada
perto de Nasuada, a ronronar, a dormir, ou a ouvir tudo
o
que se passava na sala do trono.
Ao
caminhar pelas ruas, com farrapos de neve a flutuarem,
Eragon
achou a cidade deprimentemente vazia sem os Elfos nem os
Anões.
Nasuada
continuava a mandá-lo a ele e Saphira em missões,
mas
nunca os enviou a Du Weldenvarden, o único local onde
Eragon
queria ir. Não havia quaisquer notícias dos Elfos acerca de
quem
tinham escolhido como sucessor de Islanzadí e sempre que
averiguava,
Vanir limitava-se a dizer:
—
Não somos um povo precipitado. Nomear um novo monarca
é
um processo difícil e complexo para nós. Logo que saiba o que
os
nossos conselhos decidiram, dir-vos-ei.
Há
muito tempo que Eragon não via Arya nem tinha notícias
dela,
levando-o a pensar em usar o nome da língua antiga para
contornar
as proteções de Du Weldenvarden e poder comunicar
com
ela ou, pelo menos, espiá-la por vidência. Contudo, sabia que
os
Elfos não ficariam satisfeitos com a intrusão e receava que Arya
não
gostasse que ele a contactasse dessa forma, sem um motivo
urgente.
Por
isso optou por lhe escrever uma pequena carta,
perguntando-lhe
como estava e contando-lhe parte do que ele e
Saphira
tinham andado a fazer. Deu a carta a Vanir e este
prometeu-lhe
que faria o necessário para que ela fosse
imediatamente
enviada a Arya. Eragon tinha a certeza de que Vanir
cumpriria
a sua palavra — pois tinham falado na língua antiga —, mas
não
recebeu qualquer resposta de Arya e, à medida que as luas
cresciam
e minguavam, começou a pensar que ela decidira acabar
com
a amizade entre ambos, por qualquer motivo que ele ignorava.
A
ideia magoou-o terrivelmente, o que o fez concentrar-se mais no
trabalho
que Nasuada lhe dera, para esquecer o sofrimento.
Durante
o pino do inverno, quando a saliência suspensa sobre
Ilirea
estava já orlada de pingentes de gelo, semelhantes a espadas,
e
a neve funda se amontoava sobre a paisagem circundante,
quando
as estradas estavam quase intransitáveis e a comida
começava
a escassear à mesa, Nasuada foi alvo de três atentados,
tal
como Murtagh avisara que poderia acontecer.
Os
atentados foram hábeis e bem pensados, e o terceiro — em
que
o plano era deixar cair uma rede cheia de pedras em cima dela
—
por pouco não tinha sido bem-sucedido. Nasuada sobreviveu
graças
às proteções de Eragon e à presença protetora de Elva, mas
o
último ataque valeu-lhe diversas fraturas.
Durante
o terceiro atentado, Eragon e os Falcões Noturnos
conseguiram
matar dois dos atacantes de Nasuada — cujo o número
exato
continuava a ser um mistério —, mas os restantes escaparam.
Eragon
e Jörmundur fizeram o possível e o impossível para
garantir
a segurança de Nasuada daí em diante, voltando a
aumentar
o número de guardas ao seu serviço e fazendo-a
acompanhar,
pelo menos, de três feiticeiros para onde quer que ela
fosse.
Nasuada também estava mais cautelosa e Eragon viu nela
uma
dureza que não lhe conhecia.
Nasuada
não sofreu mais ataques à sua pessoa, mas um mês
depois
de o inverno começar a amainar e de as estradas voltarem a
estar
desimpedidas, um conde deposto, que reunira várias centenas
de
antigos soldados do Império, começou a lançar ataques contra
Gil’ead
e a assaltar viajantes nas estradas das imediações.
Ao
mesmo tempo, uma outra rebelião ligeiramente maior,
comandada
por Tharos o Lesto, de Aroughs, começava a ganhar
corpo
a Sul.
As
insurreições não passaram de contratempos, ainda assim
demoraram
vários meses a reprimir e resultaram em alguns
combates
surpreendentemente selváticos, ainda que Eragon e
Saphira
tentassem resolver a questão pacificamente, sempre que
possível.
Depois das batalhas em que já tinham participado,
nenhum
estava propriamente sequioso de sangue.
Pouco
depois de terminarem as insurreições, Katrina deu à luz
uma
menina grande e saudável, com uma madeixa de cabelo ruivo
no
alto da cabeça, o mesmo cabelo ruivo da mãe. A rapariguinha
berrava
alto — como nunca na vida Eragon ouvira — e tinha uns
dedinhos
de ferro. Roran e Katrina deram-lhe o nome de Ismira, tal
como
a mãe de Katrina, e a alegria no rosto de ambos era tal
sempre
que olhavam para ela, que Eragon também sorria.
No
dia seguinte ao nascimento de Ismira, Nasuada convocou
Roran
à sala do trono e surpreendeu-o, ao conceder-lhe o título de
conde
bem como o domínio de todo o Vale de Palancar.
—
Desde que você e os teus descendentes se continuem a revelar
capazes
de o governar, o vale é teu — disse ela.
Roran
baixou a cabeça e respondeu:
—
Obrigado, Majestade. — Eragon percebeu que a oferta
significava
quase tanto para Roran como o nascimento da filha, pois
o
que mais prezava a seguir à sua família era a sua casa.
Nasuada
também tentou dar vários títulos e terras a Eragon, mas
este
recusou-os, dizendo:
—
Ser Cavaleiro é o suficiente. Não preciso de mais nada.
Alguns
dias mais tarde, quando Eragon estava com Nasuada no
seu
escritório a examinar um mapa de Alagaësia e a discutir
assuntos
de alguma relevância para todo o território, ela disse:
—
Agora que as coisas se mantêm de certa forma mais estáveis,
acho
que está na altura de abordarmos o papel dos feiticeiros em
Surda,
Teirm e no meu reino.
—
Ah sim?
—
Sim. Ponderei no assunto durante bastante tempo e tomei uma
decisão:
formar um grupo muito semelhante ao dos Cavaleiros, mas
só
para feiticeiros.
—
E o que fará esse grupo?
Nasuada
tirou uma pena de cima da secretária e rolou-a entre os
dedos.
—
Repito, um papel muito semelhante ao dos Cavaleiros: viajar
pelo
reino, para manter a paz; resolver disputas legais e, acima de
tudo,
vigiar os seus colegas feiticeiros, para evitar que estas usem
as
suas aptidões malevolamente.
Eragon
franziu a sobrancelha.
—
Porque não reservar esse papel aos Cavaleiros?
—
Porque só daqui a muitos anos é que voltaremos a ter
Cavaleiros
e, mesmo então, não serão suficientes para dar atenção
a
todos os magos insignificantes ou bruxa esquivas... Ainda não
encontraste
um local para criares os dragões, pois não?
Eragon
abanou a cabeça. Tanto ele como Saphira estavam cada
vez
mais impacientes, mas, até então, nem eles nem os Eldunarís
tinham
conseguido chegar a acordo acerca de um local. Tornava-se
um
motivo de fricção entre eles, pois as crias de dragão tinham de
sair
dos ovos o mais depressa possível.
—
Bem me parecia. Temos de fazer isto, Eragon, e não podemos
dar-nos
ao luxo de esperar. Vê a destruição que Galbatorix
semeou.
Os feiticeiros são as criaturas mais perigosas do mundo,
mais
perigosas ainda que os dragões, e têm de ser
responsabilizados,
caso contrário ficaremos sempre à sua mercê.
—
Achas mesmo que conseguirás recrutar magos suficientes para
vigiarem
todos os outros feiticeiros aqui e em Surda?
—
Acho que sim, se fores você a mobilizá-los, razão pela qual quero
que
comandes este grupo.
—
Eu?
Ela
acenou com a cabeça.
—
Quem mais o poderia fazer? Trianna? Eu não confio totalmente
nela,
nem ela tem a força necessária. Um elfo? Não. Tem de ser
alguém
da nossa raça. você sabes o nome da língua antiga, és um
Cavaleiro
e tens a sabedoria e autoridade dos dragões a apoiar-te.
Não
me ocorre ninguém melhor para comandar os feiticeiros. Falei
com
Orrin acerca disto e ele concorda.
—
Custa-me a acreditar que a ideia lhe agrade.
—
Não lhe agrada, mas entende que é necessário.
—
Será mesmo? — Eragon arranhou o canto da secretária, com
um
ar perturbado. — Como tencionas vigiar os feiticeiros que não
pertencem
a este grupo?
—
Esperava que tivesses algumas sugestões. Talvez com feitiços
e
espelhos de vidência, para que possamos seguir os seus passos e
monitorizar
o seu uso de magia, não vão eles utilizá-la em seu
proveito
à custa dos outros.
—
E se o fizerem?
—
Nesse caso obrigamo-los a redimirem-se do seu crime e
forçamo-los
a abdicar da magia na língua antiga.
—
Os juramentos na língua antiga não impedem necessariamente
ninguém
de usar magia.
—
Eu sei, mas é o melhor que se pode arranjar.
Ele
acenou com a cabeça.
—
E se um feiticeiro se recusar a ser vigiado? O que fazemos?
Não
estou a ver muitos a aceitarem que os espiem.
Nasuada
suspirou e poisou a pena.
—
Essa é a parte difícil. O que farias no meu lugar, Eragon?
Nenhuma
das soluções em que ele pensou era muito agradável.
—
Não sei...
Ele
ficou com uma expressão triste.
—
Nem eu. É um problema difícil, doloroso e confuso, e seja qual
for
a minha decisão, alguém acabará por se prejudicar. Se não fizer
nada,
os feiticeiros continuarão livres para manipular os outros com
os
seus feitiços. Se os forçar a submeterem-se a vigilância, muitos
irão
odiar-me por isso. Mas certamente que concordarás que é
preferível
proteger a maioria dos meus súbditos à custa de alguns.
—
A ideia não me agrada — murmurou ele.
—
A mim também não.
—
Você está a falar em submeter todos os feiticeiros humanos à tua
vontade,
independentemente de quem sejam.
Ele
nem pestanejou sequer.
—
Para o bem da maioria.
—
E as pessoas que apenas conseguem ouvir pensamentos e
nada
mais? Isso também é uma forma de magia.
—
Essas também. O risco de abusarem do poder que têm
continua
a ser muito alto. — Nessa altura, Nasuada suspirou. — Eu
sei
que não é fácil, Eragon, mas por muito difícil que seja é algo que
temos
de resolver. Galbatorix era louco e mau, mas tinha razão
acerca
de uma coisa: os feiticeiros têm de ser controlados, mas não
como
ele pretendia. Temos, contudo, de fazer alguma coisa e eu
acho
que o meu plano é a melhor solução. Se conseguires pensar
noutra,
uma forma de impor a ordem aos feiticeiros, ficaria
encantada,
de contrário esta é a única solução que temos e eu
preciso
da tua ajuda para a pôr em prática... Aceitas
responsabilizares-te
por este grupo, pelo bem do país e para o bem
da
nossa raça?
Eragon
demorou a responder, mas finalmente disse:
—
Se não te importas, gostaria de pensar um pouco no assunto.
Além
disso, preciso de consultar Saphira.
—
Claro, mas não demores muito, Eragon. Já estou a fazer
preparativos
e em breve precisarei de ti.
A
seguir, Eragon não foi diretamente para junto de Saphira e
vagueou
pelas ruas de Ilirea, ignorando as vénias e as saudações
das
pessoas por quem passava. Sentia-se... intranquilo, tanto com
a
proposta de Nasuada como com a vida em geral. Ele e Saphira
estavam
inativos há demasiado tempo. Era altura de mudar e as
circunstâncias
já não lhes permitiriam esperar. Tinham de decidir o
que
iam fazer e, qualquer que fosse a sua decisão, afetaria o resto
das
suas vidas.
Passou
várias horas a caminhar e a pensar nos seus laços e nas
suas
obrigações. Ao fim da tarde, voltou para junto de Saphira e
trepou
para o seu dorso sem falar.
Ela
saltou do pátio do palácio e voou bem alto, por cima de
Ilirea,
tão alto que conseguiam ver centenas de quilômetros em
todas
as direções. E aí ficou, a voar em círculos.
Falaram
sem palavras, partilhando o estado de alma. Saphira
sentia
muitas das suas preocupações, mas não estava tão
preocupada
como ele acerca das suas ligações com os outros. Para
ela,
o mais importante era proteger os ovos, os Eldunarís, e fazer o
que
estava certo para ele e para ela. Contudo, Eragon sabia que
não
podia ignorar o efeito que as suas escolhas teriam, tanto
política
como pessoalmente.
Por
fim ela disse:
O
que havemos de fazer?
O
ar debaixo das suas asas abrandou e Saphira mergulhou.
Ou
melhor, a questão é, como sempre foi o que temos de fazer.
E
não disse mais nada, mas nessa altura virou e começou a descer
em
direção à cidade.
Eragon
apreciou o seu silêncio. A decisão seria mais difícil para
ele
do que para ela, pelo que tinha de pensar no assunto sozinho.
Quando
aterraram no pátio, Saphira tocou-lhe ao de leve com o
focinho
e disse:
Se
precisares de falar, eu estarei aqui.
Nessa
noite, quando o quarto crescente apareceu junto do
penhasco
sobre Ilirea, Eragon estava encostado aos pés da cama a
ler
um livro sobre as técnicas de fabrico de selas dos primeiros
Cavaleiros.
Subitamente, um movimento ao canto do olho — como
a
ondulação de uma cortina — chamou a sua atenção.
Levantou-se,
de repente, e desembainhou Brisingr.
Através
da janela aberta, viu um navio de três mastros, feito de
erva
entrançada. Sorriu e embainhou a espada. Esticou a mão e o
navio
flutuou pelo quarto e aterrou na palma da sua mão,
inclinando-se
para o lado.
O
navio era diferente do que Arya construíra durante as viagens
que
tinham feito juntos pelo Império, depois de Roran resgatar
Katrina
de Helgrind. Tinha mais mastros e também tinha velas feitas
de
lâminas de erva. Embora a erva estivesse murcha e acastanhada
não
secara inteiramente, o que o levou a pensar que fora colhida
apenas
há um ou dois dias.
Atado
ao meio do convés havia um quadrado de papel,
dobrado.
Eragon removeu-o cuidadosamente, com o coração a
martelar-lhe
o peito, e desdobrou o papel no chão. Estava escrito
em
hieróglifos da língua antiga e dizia:
Eragon.
Decidimo-nos
finalmente em relação ao novo líder e eu estou a
caminho
de Ilirea para organizar uma apresentação oficial a
Nasuada,
mas gostaria de falar contigo e com Saphira. Esta
mensagem
deve chegar às tuas mãos quatro dias antes da lua cheia.
Por
favor, encontra-te comigo um dia depois de a receberes, no
extremo
este do Rio Ramr. Vem sozinho e não digas a ninguém
onde
vais.
Arya
Eragon
sorriu. O timing dela tinha sido perfeito. O navio chegara
exatamente
quando ela pretendia. Depois o seu sorriso dissipou-se
quando
ele releu a carta mais algumas vezes. Arya estava a
esconder
algo, era mais do que óbvio. Mas o quê? Porquê
encontrarem-se
em segredo?
“Talvez
Arya não concorde com o próximo líder dos Elfos”,
pensou
ele. “Ou talvez haja outro problema.” Embora Eragon
estivesse
ansioso por vê-la de novo, não podia esquecer como ela
o
ignorara tanto a si como a Saphira. Calculou que todos aqueles
meses
fossem insignificantes para Arya, mas não podia deixar de se
sentir
magoado.
Esperou
até os primeiros vestígios de sol surgirem no céu e
apressou-se
a descer para acordar Saphira e dar-lhe as notícias.
Ela
estava tão curiosa como ele, talvez até tão entusiasmada quanto
ele.
Eragon
selou-a e os dois saíram da cidade, dirigindo-se para
Nordeste,
sem prevenir ninguém dos seus planos, nem mesmo
Glaedr
ou os outros Eldunarís.
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