Mare
APESAR DO MEU TEMPO NO FURO
ter sido marcado pela exaustão e pelo coração partido, ainda ocupa um lugar
especial nas minhas memórias. Pela primeira vez, lembro mais vividamente das
coisas boas do que das ruins. Os dias em que voltávamos com sanguenovos vivos,
arrancados das garras da execução. Parecia um progresso. Cada rosto era uma
prova de que eu não estava sozinha, de que eu podia salvar pessoas com a mesma
facilidade que podia matá-las. Alguns dias, parecia simples. A coisa certa a fazer.
Venho buscando essa sensação desde então.
A base de Piedmont tem suas
próprias instalações de treinamento, tanto internas quanto ao ar livre. Algumas
equipadas para prateados, o restante para soldados vermelhos. O coronel e seus
homens, agora na casa dos milhares e aumentando dia a dia, reivindicaram o
campo de tiro. Sanguenovos como Ada, com habilidades menos devastadoras,
treinam com ele, aperfeiçoando a pontaria e as habilidades de combate.
Kilorn transita entre eles
e os sanguenovos no campo de treino para prateados. Ele não pertence a nenhum
grupo, mas sua presença é tranquilizadora. Kilorn é o completo oposto de uma
ameaça e um rosto familiar. Ele não teme os sanguenovos, ao contrário de muitos
dos soldados “verdadeiramente” vermelhos. Já passou tempo demais comigo para
isso.
Meu amigo me acompanha
agora, enquanto passamos por um prédio do tamanho de um hangar de jatos, mas
sem pista de decolagem.
— O ginásio dos prateados —
ele diz, apontando para a estrutura. — Tem todo tipo de coisa aí dentro. Pesos,
pista com obstáculos, uma arena…
— Sei. — Aprendi a usar
minhas habilidades num lugar como esse, cercada pelos olhares maldosos dos
prateados que me matariam se vissem uma única gota do meu sangue. Pelo menos
não tenho mais que me preocupar com isso. — Provavelmente eu não deveria
treinar num lugar com teto ou lâmpadas.
Kilorn ri.
— Provavelmente não.
Uma das portas do ginásio
bate ao abrir e uma figura sai, com uma toalha em volta do pescoço. Cal seca o
suor do rosto ainda prateado pelo esforço. Levantamento de peso, presumo.
Ele estreita os olhos e se
aproxima de nós o mais rápido que pode. Ainda ofegante, estende a mão e Kilorn
a aperta com um sorriso largo.
— Kilorn — Cal acena com a cabeça.
— Está levando Mare para conhecer tudo?
— Si… — começo a responder.
— Não, ela vai começar a
treinar com os outros hoje — Kilorn me corta. Resisto à vontade de dar uma
cotovelada na barriga dele.
— O quê?
Cal fica sério, soltando um
longo suspiro.
— Pensei que você fosse dar
um tempo.
Kilorn me pegou de surpresa
no hospital, mas ele estava certo. Não posso ficar sem fazer nada. Me sinto
inútil. A raiva fervendo sob minha pele me deixa inquieta. Eu não sou igual a
Cameron. Não sou forte o suficiente para me afastar. As lâmpadas começaram a
piscar sempre que entro numa sala. Preciso descarregar.
— Já faz alguns dias. —
Coloco as mãos na cintura, esperando a inevitável réplica.
Sem perceber, Cal assume a
postura oficial de quando discute comigo. Cruza os braços, franze a testa e
finca os pés no chão. Com o sol atrás de mim, ele tem que franzir os olhos.
Depois do treino, fede a suor.
Kilorn, o maldito covarde,
dá alguns passos para trás.
— Vejo vocês quando tiverem
terminado. — Ele lança um sorriso amarelo por cima do ombro, me deixando
sozinha com Cal.
— Espera aí — eu chamo
enquanto se afasta. Ele apenas acena, desaparecendo atrás do ginásio. — Que
belo amigo ele é. Não que eu precise de apoio — acrescento rápido —, já que a
decisão foi minha e só vou treinar. Não tem nada de mais nisso.
— Bem, parte da minha
preocupação é com as pessoas no perímetro de uma possível explosão sua. E o
resto… — Ele segura minha mão, me puxando para perto. Torço o nariz, brecando
os pés no chão. Não que funcione. Deslizo pelo piso de qualquer forma.
— Você está todo suado.
Cal sorri, passando um
braço pelas minhas costas e me deixando sem escapatória.
— Aham.
O cheiro não é
completamente desagradável, ainda que devesse ser.
— Não vai brigar comigo?
— Como disse, a decisão é sua.
— Ótimo. Não tenho forças
para brigar duas vezes em uma manhã só.
Ele me afasta gentilmente,
para ver melhor meu rosto. O dedão dele roça meu queixo.
— Gisa?
— Gisa — bufo, tirando uma
mecha de cabelo do rosto. Sem a Pedra Silenciosa, minha saúde melhorou, e
minhas unhas e meu cabelo voltaram a crescer no ritmo normal. As pontas
continuam cinza, no entanto. — Ela continua me perturbando com a história da
realocação. Quer ir para Montfort. Deixar tudo para trás.
— E você disse que ela
podia ir sozinha, não?
Fico escarlate de tão
corada.
— Saiu sem querer! Às
vezes… eu não penso antes de falar.
Ele ri.
— Sério que você faz isso?
— Minha mãe ficou do lado
dela, claro, e meu pai não tomou partido, bancando o diplomata de sempre. É
como… — minha respiração para — se nada tivesse mudado. Parece que estamos de
volta à cozinha de Palafitas. Acho que isso não deveria me incomodar tanto.
Considerando o quadro geral. — Envergonhada, me forço a olhar para Cal. Me
sinto péssima por reclamar de questões familiares para ele. Mas foi Cal quem
tocou no assunto. Então desabafei. Ele apenas me analisa, como se eu fosse um campo
de batalha. — Mas não precisa ficar preocupado com isso. Não é importante.
Ele aperta minha mão antes
que eu possa puxá-la. Cal sabe como funciono.
— Na verdade, eu estava
pensando em todos os soldados com quem treinei. Em especial no campo de
batalha. Vi alguns que voltaram bem fisicamente, mas com alguma coisa faltando.
Uns não conseguiam dormir, outros não conseguiam comer. Às vezes, eram levados
para o passado, quando a lembrança da batalha vinha com um som, um cheiro ou
qualquer outra sensação.
Engulo em seco e passo os
dedos tremendo em volta do pulso. Eu os aperto, lembrando das algemas. O toque
me revira o estômago.
— Soa familiar.
— Sabe o que ajuda?
É claro que não, senão já
teria feito. Balanço a cabeça.
— Normalidade. Rotina.
Conversar. Sei que você não gosta muito do último item — ele acrescenta,
abrindo um sorriso lentamente. — Mas sua família só quer que você esteja
segura. Eles viveram um inferno enquanto estava… fora. — Cal ainda não encontrou
uma palavra adequada para o que aconteceu comigo. Capturada ou presa não
descrevem bem a gravidade. — Agora que voltou, estão fazendo o que qualquer um
faria: tentam te proteger. Não a garota elétrica, não Mareena Titanos, mas
você. Mare Barrow. A garota que conhecem e de que se lembram. É só isso.
— Está bem. — Aceno
lentamente. — Obrigada por isso.
— E sobre aquela história
de conversar…
— Sério? Vamos ter que
fazer isso agora?
Cal gargalha, tensionando
os músculos do abdômen contra meu corpo.
— Certo, mais tarde então.
Depois do treino.
— Você deveria tomar um
banho.
— Está brincando? Vou
acompanhar você o tempo todo. Quer treinar? Então vai fazer isso direito. — Ele
me empurra de leve, para que eu siga em frente. — Vamos.
Cal não se cansa, e corre
de costas até que eu acompanhe seu ritmo. Passamos pela pista, pelo circuito
externo de obstáculos e por um campo amplo com a grama bem aparada, sem contar
vários círculos de terra para prática de combate corpo a corpo e de tiro em
alvos a meio quilômetro de distância. Alguns sanguenovos correm pela pista e
pelo circuito de obstáculos, enquanto outros praticam sozinhos no campo. Não os
reconheço, mas reconheço suas habilidades. Um sanguenovo semelhante a um
ninfoide forma colunas de água cristalina antes de deixá-las cair na grama,
criando uma grande poça de lama. Uma teleportadora atravessa o circuito de
obstáculos com facilidade. Ela aparece e desaparece em volta dos equipamentos,
rindo dos outros que estão com dificuldade. Cada vez que salta, meu estômago se
retorce com a lembrança de Shade.
As arenas de combate corpo
a corpo me perturbam mais. Não luto com ninguém como treino desde Evangeline,
vários meses atrás. Não é uma experiência que tenho vontade de repetir. Mas com
certeza terei que passar por ela.
A voz de Cal me mantém
alerta, atraindo meu foco de volta para a tarefa à frente.
— Vou incluir levantamento
de peso na sua rotina a partir de amanhã, mas hoje podemos ir direto para
teoria e prática de pontaria.
Prática eu
compreendo.
— Teoria?
Paramos na beira de um
campo de tiro, encarando a neblina que desaparece ao longe.
— Você começou a treinar
mais ou menos uma década mais tarde do que deveria. Antes das nossas
habilidades estarem prontas para a luta, passamos muito tempo estudando nossas
vantagens e desvantagens e como usá-las.
— Como o fato de que
ninfoides sempre vencem ardentes, porque é água contra fogo?
— Algo assim. Mas não tão
simples. E se você fosse a ardente nessa situação? — Balanço a cabeça, e ele
ri. — Viu? É complicado. A teoria exige capacidade de memorização e
compreensão. Mas também se aprende na prática.
Esqueci que Cal foi
preparado a vida inteira para isso. Ele é um peixe na água, tranquilo,
sorridente. Ávido. É bom nisso, é sua especialidade, a área em que se sobressai.
É sua âncora num mundo que nunca parece fazer sentido.
— É tarde demais para dizer
que não quero mais treinar?
Cal apenas ri, jogando a
cabeça para trás. Uma gota de suor escorre pelo seu pescoço.
— Você vai ter que me
aguentar, Barrow. Agora, acerte o primeiro alvo. — Ele estende a mão, indicando
um bloco quadrado de granito a dez metros de distância, pintado como um alvo. —
Um raio. Bem no centro.
Sorrindo, faço o que ele
pede. Não dá para errar a essa distância. Um único raio roxo e branco ondula
pelo ar e chega ao destino. Com um barulho ressoante de rachadura, deixa uma
marca preta no centro do alvo.
Antes que eu tenha tempo de
sentir orgulho, Cal me empurra com o corpo.
Despreparada, cambaleio e
quase caio.
— Ei!
Ele apenas se afasta e
aponta.
— Próximo alvo. Vinte
metros.
— Certo — bufo, voltando os
olhos para o segundo bloco. Levanto o braço mais uma vez, pronta para atirar,
então Cal me empurra de novo. Dessa vez meus pés reagem mais rápido, mas não o
suficiente, e meu raio desvia, atingindo o chão.
— Isso não é nada
profissional.
— Eu costumava treinar com
alguém disparando balas de festim perto da minha cabeça. Quer tentar? — ele
pergunta. Balanço a cabeça rapidamente. — Então acerte o alvo.
Normalmente, eu ficaria
irritada, mas o sorriso dele se alarga, me fazendo corar.
Isso é treino,
penso. Controle-se.
Dessa vez, quando vejo que
Cal vai me empurrar, dou um passo para o lado e solto o raio, arrancando um
pedaço do alvo de granito. A rotina se repete. Cal muda de tática, tentando
atingir minhas pernas ou até lançando uma bola de fogo na minha frente. Na primeira
vez que faz isso, caio no chão tão rápido que acabo comendo terra. “Acerte o alvo”
se torna seu lema. Ele escolhe a pedra que devo mirar aleatoriamente, a
distância variando. É muito difícil, bem mais do que a corrida, e o sol fica
brutal conforme o dia avança.
— O alvo é um lépido. O que
você faz? — ele pergunta.
Cerro os dentes, ofegante.
— Amplio o raio. Eu o pego
enquanto desvia…
— Não fale, faça.
Com um grunhido, giro o
braço como se usasse um machado em um movimento horizontal, lançando um jato de
alta voltagem na direção do alvo. As faíscas são mais fracas, menos
concentradas, mas suficientes para frear um lépido. Ao meu lado, Cal apenas acena
com a cabeça, sua única indicação de que fiz algo certo. A sensação é boa.
— Trinta metros. Banshee.
Tampando os ouvidos com as
mãos, forço a vista na direção do alvo, lançando um raio sem usar os dedos. Um
relâmpago sai do meu corpo, curvando-se como um arco-íris. Erro o alvo, mas
espalho eletricidade, fazendo as fagulhas explodirem em direções diferentes.
— Cinco metros.
Silenciador.
Só de pensar em um Arven,
entro em pânico. Tento focar. Minha mão busca uma arma que não está lá e finjo
atirar no alvo.
— Bang.
Cal solta uma risada.
— Essa não valeu, mas tudo
bem. Cinco metros, magnetron.
Esse alvo eu conheço muito
bem. Com toda a força que consigo reunir, lanço uma explosão de raios no alvo.
Ele se racha em dois.
— Teoria? — uma voz suave
fala atrás de nós.
Eu estava tão focada que
nem percebi Julian parado ali, com Kilorn ao seu lado. Meu antigo professor
oferece um sorriso discreto, mantendo as mãos atrás das costas como sempre.
Nunca o vi com uma roupa tão informal, com uma camisa leve de algodão e bermuda,
revelando suas pernas finas de frango. Cal deveria colocá-lo em uma rotina de
levantamento de peso também.
— Teoria — Cal confirma. —
Ou algo próximo disso. — Ele acena para que eu pare, me dando uma pequena
trégua. Imediatamente sento na terra, esticando as pernas.
Apesar de ter que desviar o
tempo todo, são os raios que me cansam. Sem a adrenalina da batalha ou uma
ameaça de morte iminente, é notório que meu vigor diminui. Isso sem falar que
estou há seis meses sem treinar. Com um movimento preciso, Kilorn se inclina e
deixa uma garrafa de água gelada ao meu lado.
— Achei que fosse precisar
disso — ele diz, com uma piscadela.
Sorrio para ele.
— Obrigada — consigo dizer
antes de beber. — O que está fazendo por aqui, Julian?
— Eu estava a caminho dos
arquivos, então parei pra ver o que era toda essa agitação. — Ele gesticula por
cima do ombro. Me surpreendo ao ver umas dez pessoas ou mais reunidas na
beirada do campo de tiro, todas nos encarando. Ou melhor: me encarando.
— Você tem uma plateia.
Cerro os dentes. Ótimo.
Cal se move só um pouco,
para me tirar de vista.
— Desculpe. Não queria
tirar sua concentração.
— Está tudo bem — digo a
ele, me forçando a levantar. Meus músculos gemem em protesto.
— Bem, vejo vocês dois mais
tarde — Julian diz, olhando para mim e Cal.
Respondo rápido.
— Podemos ir com você…
Ele me corta com um sorriso
familiar, gesticulando para a multidão de espectadores.
— Ah, acho que você ainda
precisa ser apresentada a algumas pessoas. Kilorn, você se incomoda?
— De forma alguma. — Quero
arrancar o sorrisinho da cara de Kilorn, e ele sabe disso. — Depois de você,
Mare.
— Tudo bem — forço pela
mandíbula cerrada.
Lutando contra meus
instintos naturais de fugir da atenção, dou alguns passos na direção dos
sanguenovos. Mais alguns. E mais outros. Até que os alcanço, com Cal e Kilorn
ao meu lado. No Furo, eu não queria fazer amigos. É difícil dizer adeus para amigos.
Isso não mudou, mas entendo o que Kilorn e Julian estão fazendo. Não posso mais
me fechar para os outros. Forço um sorriso animado para as pessoas à minha volta
— Oi. Eu sou Mare. — Isso
soa idiota e eu me sinto idiota.
Um dos sanguenovos, a
teleportadora, balança a cabeça, concordando. Ela usa um uniforme verde de
Montfort, tem braços e pernas longos e cabelo castanho cortado curtinho.
— Sim, nós sabemos. Sou
Arezzo — ela diz, levantando a mão. — Saltei com você e Calore para fora de
Archeon.
Não me admiro por não
reconhecê-la. Os minutos depois da minha fuga ainda são um borrão de medo,
adrenalina e alívio.
— É claro. Obrigada por
isso. — Pisco tentando lembrar dela.
Os outros são tão amigáveis
e abertos quanto Arezzo, tão felizes em conhecer mais uma sanguenova quanto eu.
Todos no grupo são nascidos em Montfort ou em lugares aliados. Usam um uniforme
verde com um triângulo branco no peito e insígnias em cada bíceps. Algumas são
fáceis de decifrar: duas linhas onduladas para sanguenovos parecidos com
ninfoides, três flechas para lépidos. Ninguém tem emblemas ou medalhas,
contudo. Não há como dizer quem é oficial e quem não é. Todos têm treinamento
militar. Eles se tratam pelo sobrenome e têm um aperto de mão firme, cada um
deles nascido e criado como soldado ou transformado em um. A maioria reconhece Cal
de imediato e acena para ele com a cabeça de maneira formal, enquanto Kilorn é tratado
como um velho amigo.
— Onde está Ella? — Kilorn
pergunta a um homem negro de cabelo espantosamente verde. Tingido, é claro. O
nome dele é Rafe. — Mandei uma mensagem para vir conhecer Mare. Para Tyton
também.
— A última vez que os vi,
estavam praticando no topo da Colina da Tempestade. Onde, tecnicamente — ele
olha para mim, quase se desculpando —, os eletricons deveriam treinar.
— O que é um eletricon? —
pergunto, e de imediato me sinto idiota.
— Você.
Suspiro, acanhada.
— Certo. Dava pra imaginar.
Rafe mantém uma faísca
flutuando na mão, deixando-a passear entre os dedos. Eu a sinto, mas não como
meus próprios raios. A faísca verde obedece a Rafe e apenas a ele.— É uma
palavra esquisita, mas somos criaturas esquisitas, não acha?
Eu o encaro, quase sem
fôlego de tão animada.
— Você é… como eu?
Ele assente, indicando os
raios nas suas mangas.
— Sim, eu e os outros.
A Colina da Tempestade é
exatamente o que o nome diz. Desponta de uma leve inclinação no meio de um
campo na outra ponta da base, o mais longe possível da pista de pouso. Assim há
menos chances de um raio perdido atingir um jato. Tenho a sensação de que a
colina é algo novo, a julgar pela terra solta conforme nos aproximamos do cume.
A grama também foi plantada recentemente, por um verde ou seu equivalente
sanguenovo. É mais viçosa do que a dos campos de treino. Mas o topo da colina é
uma bagunça, terra batida chamuscada, coberta de rachaduras e com um cheiro
distante de tempestade. Enquanto o resto da base aprecia o céu azul e brilhante,
uma nuvem negra cobre a Colina da Tempestade, elevando-se a milhares de metros
no céu como uma coluna de fumaça negra. Nunca vi nada parecido, tão controlado
e contido.
A mulher de cabelo azul que
vi em Archeon está de pé embaixo da nuvem, com os braços estendidos, as palmas
apontadas para o trovão. Um homem de costas eretas, com cabelo branco bem
penteado, está parado atrás dela, parecendo magro e esguio em seu uniforme
verde. Ambos têm a insígnia do raio.
Fagulhas azuis dançam sobre
as mãos da mulher, pequenas como vermes.
Rafe segue à nossa frente,
e Cal, ao meu lado. Apesar de já ter lidado com mais raios do que gostaria, a
nuvem negra o deixa nervoso. Ele continua olhando para cima, como se esperasse
que explodisse. Algumas luzes azuis brilham fracas na escuridão, iluminadas por
dentro. O trovão soa grave e constante como o ronronar de um gato, estremecendo
meus ossos.
— Ella, Tyton — Cal chama,
acenando com a mão.
Eles viram, e os lampejos
param de forma abrupta. A mulher abaixa as mãos e a nuvem negra começa a se
dissolver diante dos nossos olhos. Ela vem correndo, seguida pelo homem mais
estoico.
— Estava me perguntado
quando íamos te conhecer — a mulher diz, com a voz aguda e suave, combinando
sua estatura graciosa. Sem aviso, ela pega minhas mãos e beija minhas
bochechas. O toque dela é elétrico, e fagulhas saltam de sua pele para a minha.
Não machuca e tem um efeito animador. — Eu sou Ella, e você é Mare, claro. Essa
torre gigante é Tyton.
O homem em questão de fato
é alto, com pele morena, sardas e o queixo afiado. Ele sacode a cabeça e joga o
cabelo branco para o lado, deixando-o cair sobre o olho esquerdo. Dá uma
piscadela com o direito. Imaginava que seria velho, pela cor do cabelo, mas não
deve ter mais do que vinte e cinco anos.
— Olá — é tudo o que diz,
com sua voz profunda e confiante.
— Oi. — Aceno para eles,
dominada tanto por sua presença quanto pela minha inabilidade de agir de alguma
forma próxima da normalidade. — Desculpem, isso é um pouco chocante.
Tyton revira os olhos, mas
Ella explode em uma gargalhada. Um segundo depois, entendo e me encolho.
Cal ri ao meu lado.
— Que trocadilho horrível,
Mare. — Cal encosta em meu braço da forma mais discreta possível, emanando uma
onda de calor. É um conforto bem pequeno sob o calor de Piedmont.
— Mas entendemos o que quer
dizer — Ella vem ao meu resgate. — É sempre intenso conhecer outro rubro, ainda
mais três, com a mesma habilidade que você. Certo, garotos? — Ela dá uma
cotovelada no peito de Tyton e ele praticamente não reage. Rafe apenas assente
com a cabeça. Tenho a sensação de que a Ella é quem mais fala e, baseado no que
lembro da tempestade de raios azuis em Archeon, quem mais luta no grupo. —
Vocês dois me matam — Ella resmunga, sacudindo a cabeça para eles. — Mas tenho
você agora, não é, Mare?
Sua natureza ansiosa e seu
sorriso aberto me colocam na defensiva. Pessoas que parecem gentis demais estão
sempre escondendo alguma coisa. Engulo minhas suspeitas para dar a ela o que
espero que seja um sorriso genuíno.
— Obrigada por trazê-la —
Ella acrescenta para Cal. A doce fada de cabelo azul de repente endireita a
coluna e endurece a voz, transformando-se em um soldado diante dos meus olhos.
— Acho que podemos assumir o treinamento a partir daqui.
Ele solta uma risada grave.
— Sozinhos? Está falando
sério?
— Vi o seu “treino” — ela
dispara. — Pequenas explosões em um campo de tiro dificilmente serão o bastante
para maximizar as habilidades de Mare. Ou você sabe como extrair uma tempestade
de dentro dela?
Pela forma como os lábios
dele se contorcem, percebo que Cal quer dizer algo inapropriado. Eu intercedo
antes que tenha a chance, segurando seu pulso.
— A formação militar de
Cal…
— … é ótima para
condicionamento — Ella me corta. — E perfeita para aprender a lutar contra
prateados. Mas suas habilidades são mais amplas do que ele pode compreender. Há
coisas que ele tem como te ensinar, coisas que você deve aprender da forma mais
difícil, sozinha, ou da forma mais fácil: com a gente.
A lógica dela é sólida e
perturbadora. Há coisas que Cal não pode me ensinar, coisas que ele não
entende. Lembro de quando tentei treinar Cameron; não conhecia a habilidade
dela da mesma forma que a minha. Era como falar uma língua diferente. Eu ainda
era capaz de me comunicar, mas não com precisão.
— Vou ficar vendo, então —
Cal fala, determinado. — Isso é aceitável?
Ella sorri, voltando a seu
temperamento divertido.
— Claro. Mas é melhor se
afastar e ficar alerta. Raios são como uma égua selvagem. Não importa o quanto
você segure as rédeas, sempre tentam correr livres.
Cal me lança um último
olhar e um sorriso solidário com uma pitada de sarcasmo antes de ir para longe,
muito além das marcas de explosões. Quando chega lá, se joga no chão e se apoia
nos braços, mantendo seus olhos treinados em mim.
— Ele é simpático. Para um
príncipe — Ella comenta.
— E para um prateado — Rafe
emenda.
Olho para ele, confusa.
— Não há prateados
simpáticos em Montfort?
— Não saberia dizer. Nunca
estive lá — ele responde. — Nasci no sul de Piedmont, nas ilhas Floridian. —
Rafe faz pontinhos no ar com os dedos, ilustrando o arquipélago pantanoso. —
Montfort me recrutou alguns meses atrás.
— E vocês dois? — Olho para
Ella e Tyton.
Ela responde rapidamente.
— Prairie. Em Sandhills.
Minha família vivia se mudando por causa de saqueadores. Montfort nos acolheu
quase dez anos atrás. Foi quando conheci Tyton.
— Nasci em Montfort — ele
diz apenas. Não é muito falante, provavelmente porque Ella fala o suficiente
por todos. Ela me conduz para o centro do que só pode ser chamado de “área de
explosões”, até que eu fique diretamente embaixo da nuvem de tempestade que
ainda se dissipa.
— Bem, vamos ver com o que
estamos lidando — Ella diz, me posicionando. Uma brisa balança o cabelo dela,
jogando as mechas azuis e brilhantes para trás. Movendo-se em sincronia, os
outros dois se posicionam ao meu redor, de modo que formamos um quadrado. —
Comece pequeno.
— Por quê? Eu posso…
Tyton olha para cima.
— Ela quer verificar seu
controle.
Ella assente.
Expiro. Embora esteja
animada com meus companheiros eletricons, me sinto um pouco como uma criança
com muitas babás.
— Tudo bem.
Faço conchas com as mãos e
chamo a eletricidade, deixando faíscas irregulares roxas e brancas saltarem.
— Roxo? — Rafe diz,
sorrindo. — Legal.
Passos os olhos pelas cores
incomuns do cabelo deles, sorrindo. Verde, azul e branco.
— Não pretendo tingir o
cabelo — aviso.
O verão atinge Piedmont com
uma força escaldante, e Cal é a única pessoa que consegue suportar. Sem ar por
causa da exaustão e do calor, eu empurro suas costelas para que role para o
lado. O movimento é lento e preguiçoso — deve estar cochilando de novo. Ele
vira demais e acaba caindo da cama, atingindo o chão duro de tacos. Isso o
acorda. Ele dá um pulo, o cabelo preto espetado em várias direções, nu como um recém-nascido.
— Minhas cores — xinga,
esfregando a cabeça.
Sua dor não me comove.
— Se não insistisse em
dormir num armário de vassouras, isso não teria acontecido.
Até o teto, feito de gesso
manchado, é deprimente. A única janela aberta não alivia o calor, especialmente
no meio do dia. Não quero nem pensar em quão finas as paredes devem ser. Pelo
menos ele não tem que dividir o quarto com outros soldados.
Ainda no chão, Cal
resmunga.
— Gosto do quartel. — Ele
tateia à procura da bermuda, e em seguida veste. Os fechos dos braceletes são
complicados, mas Cal os prende como se fossem parte do seu corpo. — E você não
precisa dividir o quarto com sua irmã.
Eu me viro e coloco a
camiseta. O intervalo de almoço vai terminar em alguns minutos e preciso ir
para a Colina da Tempestade em breve.
— Você tem razão. Só
preciso superar o probleminha que tenho para dormir sozinha. — É claro que com
“probleminha” me refiro ao trauma ainda debilitante. Tenho pesadelos terríveis
se não há alguém no quarto comigo.
Cal para de vestir a camisa
no meio. Ele puxa o ar e estremece.
— Não foi isso que eu quis
dizer.
É minha vez de resmungar.
Olho para os lençóis. Padrão militar, lavados tantas vezes que estão quase
rasgando.
— Eu sei.
A cama se mexe e as molas
rangem conforme Cal se inclina na minha direção. Seus lábios tocam minha
cabeça.
— Teve mais pesadelos?
— Não — respondo tão rápido
que ele ergue uma sobrancelha desconfiado, mas é verdade. — Com Gisa lá, não.
Ela diz que não faço barulho algum. Minha irmã, por outro lado… Tinha esquecido
que um ronco tão alto poderia vir de uma pessoa tão pequena. — Rio para mim
mesma e encontro coragem para olhar nos olhos de Cal. — E você?
No Furo, dormíamos lado a
lado. Na maioria das noites, ele se sacudia e se revirava, balbuciando durante
o sono. Às vezes chorava.
Um músculo se repuxa no seu
queixo.
— Só alguns. Talvez duas
vezes por semana.
— Sobre?
— Meu pai, na maioria das
vezes. Você. Como me senti lutando contra você, tentando te matar sem conseguir
impedir isso. — Ele fecha as mãos com a lembrança. — E Maven. Quando era
pequeno. Com seis ou sete anos.
O nome ainda me faz sentir
como se tivesse ácido nos ossos, mesmo depois de um bom tempo desde a última
vez que o vi. O rei fez várias transmissões e pronunciamentos desde então, mas
me recusei a vê-los. Minhas lembranças já são aterrorizantes o suficiente. Cal
sabe disso e, por respeito a mim, não fala absolutamente nada sobre o irmão.
Até agora. Você perguntou, repreendo a mim mesma. Cerro os dentes com
força para me impedir de vomitar todas as palavras que não tenho dito a Cal.
Seria muito doloroso para ele. Não ajudaria nada saber que tipo de monstro o
irmão foi forçado a se tornar.
Ele prossegue, com os olhos
distantes, nas lembranças.
— Maven costumava ter medo
do escuro, até que isso simplesmente desapareceu. Nos meus sonhos, ele está
brincando no meu quarto. Andando por todo o lado, olhando meus livros. A
escuridão o segue. Tento dizer a ele. Tento alertar meu irmão. Ele não se
importa. Não liga. Não posso fazer nada. Ela o engole por inteiro. — Devagar,
Cal passa a mão pelo rosto. — Não preciso ser um murmurador para saber o que
isso significa.
— Elara está morta —
sussurro, me mexendo para que a gente fique lado a lado. Como se isso fosse
algum conforto.
— E ainda assim Maven pegou
você. Ainda assim fez coisas horríveis. — Cal fixa os olhos no chão, incapaz de
me encarar. — Eu simplesmente não consigo entender por quê.
Eu poderia ter ficado em
silêncio. Poderia distraí-lo. Mas as palavras fervem furiosas na minha
garganta. Cal merece a verdade. Relutante, pego sua mão.
— Ele se lembra do amor por
você, pelo seu pai. Mas disse que Elara arrancou esse amor dele. Como um tumor.
Ela tentou fazer o mesmo com os sentimentos por mim, e antes disso por Thomas,
mas não funcionou. Alguns tipos de amor… — minha respiração fraqueja — ele diz
que são mais difíceis de remover. Acho que a tentativa o transtornou ainda
mais. Elara tornou impossível para Maven me abandonar. Tudo o que ele sentia
por nós dois foi corrompido, transformado em algo pior. Por você, virou ódio. Por
mim, obsessão. E não há nada que nenhum de nós possa fazer para mudar isso.
Acho que nem ela poderia desfazer o próprio trabalho.
A única resposta de Cal é o
silêncio, deixando a revelação pairar no ar. Sinto o coração partir pelo
príncipe exilado. Dou o que acho que precisa. Minha mão, minha presença, minha
paciência. Depois de uma pausa muito, muito longa, ele abre os olhos.
— Até onde sei, não há
sanguenovos murmuradores — Cal fala. — Nunca vi ou ouvi falar de um. E fiz uma
pesquisa bem extensa.
Por essa eu não esperava.
Pisco, confusa.
— Sanguenovos são mais
fortes que prateados. E Elara era apenas uma prateada. Se alguém pode… consertar
ele, não vale a pena tentar?
— Não sei — é tudo o que
posso responder. A ideia me paralisa, e não sei como me sentir. Se Maven pode
ser curado, por assim dizer, seria o suficiente para redimi-lo? Com certeza não
mudaria o que fez. Não só comigo e com Cal, mas com o pai, com centenas de
outras pessoas. — Realmente não sei.
Mas isso dá esperanças a
Cal. Vejo um pequeno brilho em seus olhos distantes.
Suspiro, alisando seus
cabelos. Precisa de um corte, por mãos mais firmes que as dele.
— Se Evangeline pode mudar,
talvez qualquer um possa.
A gargalhada repentina ecoa
grave em seu peito.
— Ah, Evangeline é a mesma
de sempre. Ela só tinha mais motivos para deixar você partir do que o
contrário.
— Como você sabe?
— Sei quem disse a ela para
te libertar.
— O quê? — pergunto com
rispidez.
Com um suspiro, Cal se
levanta e cruza o quarto. A parede oposta está toda tomada pelo armário, quase
vazio. Ele não tem muitas posses além de roupas e alguns equipamentos táticos.
Para minha surpresa, anda pra lá e pra cá. Isso me deixa no limite.
— A Guarda impediu todas as
minhas tentativas de te trazer de volta — ele diz, as mãos se movendo tão
depressa quanto sua fala. — Não enviava mensagens, não oferecia apoio para eu
me infiltrar. Não havia espiões. Eu não ia ficar sentado naquela base
congelante esperando alguém me dizer o que fazer. Então entrei em contato com alguém
em quem confio.
A conclusão me atinge no
estômago.
— Evangeline?
— Pelas minhas cores, não —
ele se sobressalta. — Vovó Anabel, mãe do meu pai…
Anabel Lerolan. A antiga
rainha.
— Você ainda a chama de vovó?
Ele fica prateado de
vergonha. Meu coração para de bater por um segundo.
— Força do hábito — ele
resmunga. — De qualquer forma, ela nunca ia à corte quando Elara estava lá, mas
pensei que talvez não se importasse agora que ela está morta. Minha avó sabia
como Elara era, e me conhece. Imaginei que teria enxergado as mentiras da
rainha. Que teria compreendido o papel de Maven na morte do nosso pai.
Cal estava se comunicando
com o inimigo. Príncipe de Norta ou não, o coronel e Farley dariam um tiro nele
se soubessem.
— Eu estava desesperado. Em
retrospecto, sei que foi realmente idiota — ele acrescenta. — Mas funcionou.
Ela prometeu libertar você quando surgisse uma oportunidade. Deve ter apoiado
Volo Samos em troca da sua fuga, e valeu a pena. Você está aqui agora por causa
dela.
Falo devagar, porque
preciso compreender tudo aquilo:
— Então ela sabia que o
ataque em Archeon estava para acontecer?
Cal se volta para mim num
piscar de olhos, ajoelhando para segurar ambas minhas mãos. Seus dedos ardem de
tão quentes, mas me forço a não me afastar.
— Sim. Ela é mais aberta à
comunicação com Montfort do que eu imaginava.
— Ela se comunicava com
eles?
Cal pisca.
— Ainda se comunica.
Por um segundo, desejo ter
cores pelas quais xingar.
— Como? Como isso é
possível?
— Acho que você não espera
uma explicação de como as radiotransmissões funcionam. — Ele sorri. Eu não. —
Montfort está disposto a trabalhar com os prateados, em qualquer nível, para
alcançar seus objetivos. É uma — ele procura a palavra certa — parceria. Ambos
querem a mesma coisa.
Quase rio em descrença. A
corte prateada trabalhando com Montfort… e a Guarda? Parece completamente
ridículo.
— E o que eles querem?
— Maven fora do trono.
Um arrepio perpassa meu
corpo apesar do calor do verão e da proximidade de Cal.
Lágrimas que não posso
controlar escorrem.
— Mas eles ainda querem um
rei.
— Não…
— Um rei prateado
controlado por Montfort continuaria sendo um rei prateado. Os vermelhos
ficariam na lama, como sempre.
— Juro a você que não se
trata disso.
— Vida longa a Tiberias VII
— sussurro. Ele se contrai. — Quando as Casas se rebelaram, Maven os
interrogou. Todos morreram dizendo essas palavras.
O rosto dele desaba de
tristeza.
— Nunca pedi por isso — Cal
murmura. — Nunca quis isso.
O jovem ajoelhado diante de
mim nasceu para a coroa. Querer não tem nada a ver com sua formação. Sua
vontade foi arrancada dele logo cedo, substituída pela obrigação, a qual seu
pai desgraçado disse que um rei deveria ter.
— Então o que você quer? —
Quando Kilorn me fez essa mesma pergunta, descobri foco, propósito, um caminho
claro diante da escuridão. — O que você quer, Cal?
Ele responde rápido, os
olhos ardendo.
— Você. — Seus dedos
apertam os meus, quentes mas estáveis. Ele está se segurando o máximo que pode.
— Eu te amo e quero você mais do que qualquer coisa no mundo.
Amor não
é uma palavra que usamos. Sentimos, pensamos, mas não falamos. Parece algo tão
definitivo, uma declaração da qual não se pode voltar atrás. Sou uma ladra. Conheço
minhas rotas de fuga. E fui uma prisioneira. Odeio portas trancadas. Mas seus olhos
estão tão próximos, tão sedentos. E é o que eu sinto também. Mesmo que as palavras
me apavorem, são verdadeiras. Não disse que ia começar a falar a verdade?
— Eu te amo — sussurro, me
inclinando para apoiar a testa na dele. Sinto seus cílios rasparem minha pele
de leve. — Prometa. Prometa que não vai me deixar. Prometa que não vai voltar.
Prometa que não vai desfazer tudo pelo que meu irmão morreu.
Seu suspiro grave atinge
meu rosto.
— Prometo.
— Lembra quando dissemos um
pro outro que não íamos nos distrair?
— Sim. — Ele passa um dedo
ardente pelos meus brincos, tocando um por vez.
— Me distraia agora.
Prevejo merda 😒 mau ele sabe que a vovozinha dele planeja pra ele o que ele acabou de prometer não fazer.
ResponderExcluirexatamente, n sei pq mas eu gosto da evangeline [fiquei com muita dó dela naquele cap. tadinha aquele volos ta me irritando]sou apixonada pelo maven, to gostando do tolly apesar do que ele fez com o shade T.T e n gosto do cal n, quero que ele morra e que o maven se converta pro bem e que eles se casem e essa iris suma e tals. so bem do contra mesmo desculpa
ExcluirEu tbm amo o maven!!Mareven 4ever
ExcluirMuito bonito, mas eu tô sentindo que isso vai dar merda
ResponderExcluira mare me irrita as vezes,muitas na verdade,ela pode ser rainha! aff
ResponderExcluirCorreção: Ela pode ser uma boneca pela qual vai chegar a hora q ela quebrara, ela vai tarde ser cada de inimigos vai acabar fasendo como o maven, criando um trono de pedra silenciosa.
ExcluirLetícia.
Cal me distraia também!! 😏😈
ResponderExcluira mim tb kkkk
ExcluirTbm quero kkkk
ExcluirA mim tb kkkkk
ExcluirEITA..eu tbm,uai !!! kkkkkkk
ExcluirAI,COMO EU QUERIA UMA DISTRAÇÃO ASSIM *.*
ExcluirEu me pergunto se realmente o Cal não quer a coroa!
ResponderExcluirQue bela distração, hein?
ResponderExcluirTadinha da Mare ainda vai se decepcionar tanto...
Eu me viro e coloco a camiseta. O intervalo de almoço vai terminar em alguns minutos e preciso ir para a Colina da Tempestade em breve.
ResponderExcluirNo meio da tarde e no calor infernal ?
As tempestades são convocadas pelos electricons, não são naturais. Apesar de que deve ser difícil formá-las num céu limpo, né? Hauehaehaue
ExcluirEu acho que ela não estava falando sobre tempestades no calor infernal nesse sentido Karina.....
ExcluirOkaaay... Kkkkkk
ExcluirQuem nunca...tá perdendo
ExcluirKkkkkk😜😉
Laura Huppert:
ExcluirEu acho que ela não estava falando sobre tempestades no calor infernal nesse sentido Karina.....
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA KKKKKKKKKKKKKK É MUITO ERRADO RIR DISSOOOOOOOOOOOO KKKKKKKKKKKKKKKKKKK
MUITO ERRADO KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
ExcluirEntão a Mare ainda tem os brincos... fiquei me perguntando se o Maven não tinha pegado eles
ResponderExcluirVai dar merda, vai dar merda, vaiii.......
ResponderExcluirKkkkk...
ResponderExcluirKKKKKKKKKKKKKKKKKK.... MORRI COM OS COMENTARIOS
ResponderExcluirCaraca. .. Segundo round! ! Kkkkkkkkkk...
ResponderExcluirFlavia
Vixi kkkkkkkkkkkkkkkk
Excluireu achava que eles já deveriam tá no décimo sexto round kkkkkkkkk
Que vai dar merda, tds ja perceberam kkkkk mas a princesa dentro de mim quer tanto que eles sejam rei e rainha e tenham filhos e SEJAM FELIZES! #naocustasonhar
ResponderExcluirQue linda declaração de amor <3
ResponderExcluirEu quero um Cal para mim. O mundo é TÃO injusto! Pq eu n posso ter um Cal?!
ResponderExcluir— Cinco metros. Silenciador.
ResponderExcluirSó de pensar em um Arven, entro em pânico. Tento focar. Minha mão busca uma arma que não está lá e finjo atirar no alvo.
— Bang.
Cal solta uma risada.
— Essa não valeu, mas tudo bem. Cinco metros, magnetron. kkkkkk
Gente, quando disseram Ella eu lembrei de Legados de Lorien.SDDS ~polly~
Os legados de Lorien ♡
Excluirri muito nessa parte kkkkkk
Excluireu lembrei de HDO
— Minhas cores — xinga, esfregando a cabeça.
ResponderExcluirTRADUÇÃO:
Put@ que me par#$%
VAI DAR MERD@, VAI D...!
com certeza vai ter alguma reviravolta nisso aí.
E, MEU DEUS, que distração, hein? kkkkkkkkk
~polly~ a melhor parte são os comentários mds hahaha
Vai dar merdaaaaa. Tô chorando desde já
ResponderExcluirAss: Déborah A.
eu tbm ;(
ExcluirMare dividida entre Cal e Mavem.
ResponderExcluirCal divivido entre Mare e a coroa.
Aproveitemos a calmaria pq a tempestade tá chegando 😟
Algo vai da errado. Sempre da😡
ResponderExcluiracho chato td mundo ter os poderes repetidos
ResponderExcluirmas tem que ser....os poderes tem um numero limitado
ExcluirGente me ajudem só para imaginar melhor, quais são as características físicas da mare?
ResponderExcluirA Mare é baixa,sua pele é morena,olhos castanhos e cabelo castanho escuro.
ExcluirCal nasceu para ser rei é foi criado para isso, não vão desistir dele tão fácil. Esse casal é muito difícil 🙄
ResponderExcluirMe identifico com a Mare.Sou orgulhosa,as vezes arrogante e já fui mais egoísta do que gostaria de admitir.Sem falar das boas intenções praticadas de maneira 'errada'.E agora percebo que me afasto de quem se importa comigo,e o quanto isso tem prejudicado a mim e aos que me rodeiam.Não posso continuar assim.Como minha Rainha Vermelha,eu estou aprendendo com os meus muitos erros e estou amadurecendo.Também tenho um Maven em minha vida.Não é um cara com uma obsessão doentia por mim mas,um mostro chamado depressão.A luta não é fácil mas sei que vou vencer,com fé em Deus. Desculpem o desabafo mas, senti a necessidadede compartilhar isso.
ResponderExcluirKARINA PARABÉNS PELO BLOG!GRAÇAS À VOCÊ EU POSSO LER LIVROS MARAVILHOSOS COMO ESSE.LER É UMA PAIXÃO E NOS MOMENTOS DE ANGÚSTIA UMA NECESSIDADE.OBRIGADA!
Hahaha imagina, Branquinha! E muito legal esse trecho que você escreveu
Excluir👏👏👏
ExcluirAmei seu comentário
A gente só consegue consertar os nossos erros quando os admitimos
É isso aí! Tenho Fé! Você vai conseguir!
Até quem fim agente sabe quem essa garota ama!⚡🔥
ResponderExcluirPobres e infelizes leitores q tão lendo pela primeira vez... Kkkkk tenho pena de vcs 🙃
ResponderExcluir-Mare Calore
ELA AMA ELE. Não quer dizer que no final não tenha dado ruim. (relendo tb)
ExcluirAaaa difícil reler essa parte, grrrr
ExcluirVocês são crianças muito más! Onde já se viu? Eu sou cardíaca!
ResponderExcluirEu tô chorando aqui... God... que bad que bateu agora...
Que vida é essa? Que sofreria... Esse livro tá pior que música sertaneja
ELES SÃO TÃÃÃO LINDOOOS (VONTADEZIINHA DE COLAR NA TESTA) AAAAAAAAAAAAA
ResponderExcluirSó eu me pergunto como seria uma criança sendo o pai prateado e a mãe vermelha???
ResponderExcluirTem a filha do Shande....
ExcluirEstamos TÃO acostumados com tudo dando ruim no livro que agora que tá tudo dando certo temos uma certeza: vai dar um merda ENORME daqui a pouco
ResponderExcluirHUMMMMMMMM....Cal e Mare se distraindo *-* queria eu uma distração como o Cal
Queremos
ExcluirTo sentindo que vai dar merda. Mas até la eles poder ir... se distraindo... kkkkkkkkk
ResponderExcluir~Diane
Nem acredito que estão finalmente se entregando de verdade ao que sentem já estava na hora...ehehehehe! Realmente espero que o Cal
ResponderExcluircumpra o que acabou de prometera Mare pois com certeza não sabe sobre o acordo que a avó fez!?Não acredito que o Maven possa ser salvo, do que se tornou! DM
mare e cal estao transando igual coelhooo socorro KKKKKKK
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!
ExcluirSocorro acabei de descobrir que não acaba nesse livro e tem mais um.... To sofrendo pra ler esse😖😖😖😖mas não consigo ficar sem saber o final
ResponderExcluir