Mare
LEVANTO QUANDO ELE PERMITE.
Sinto um puxão na corrente
presa à coleira no meu pescoço. As farpas cravam em mim, mas não o bastante
para fazer sangrar — ainda não. Meus punhos já sangram. As feridas são
consequência dos dias de cativeiro inconsciente usando as algemas ásperas e
dilacerantes. As mangas outrora brancas agora estão manchadas de rubro e
escarlate vivo, passando do sangue velho para o novo como prova do meu
tormento. Para mostrar à corte de Maven o quanto já sofri.
Ele para diante de mim, com
uma expressão indecifrável. As pontas da coroa de seu pai o fazem parecer mais
alto, como se o ferro saísse de seu crânio. A coroa brilha, e cada ponta é uma
chama ondulada de metal escuro ladeada por bronze e prata. Me concentro nesse
objeto amargamente familiar para não encarar Maven. Ele me traz para perto,
puxando outra corrente que não consigo ver, apenas sentir.
Uma mão branca cerca meu
punho ferido, quase gentil. Involuntariamente, meus olhos se voltam para o
rosto dele, sem conseguir desviar. O sorriso é tudo menos doce. Fino e afiado
como uma navalha, me perfurando com cada um dos dentes. Os olhos são ainda
piores. Os olhos dela, de Elara. Antes eu os achava frios, feitos de gelo vivo.
Agora compreendi. As chamas mais quentes ardem azuis, e os olhos dele não são exceção.
A sombra da chama. Maven
flameja, mas a escuridão o corrói pelas beiradas. Há manchas pretas e azuladas
ao redor de seus olhos injetados de sangue prateado. Ele não anda dormindo bem.
Está mais magro do que me lembrava, mais franzino, mais cruel. Seu cabelo negro
chega à altura das orelhas, enrolando nas pontas. Suas bochechas continuam
suaves. Às vezes esqueço como ele é jovem. Como nós dois somos. Sob a veste
simples, a marca do M arde na minha clavícula.
Maven vira rápido,
segurando firme a corrente, me obrigando a acompanhar. Uma lua orbitando um
planeta.
— Testemunhem esta
prisioneira, esta vitória — ele diz, endireitando os ombros diante do vasto
público à nossa frente. Trezentos prateados, no mínimo, entre nobres e civis,
guardas e oficiais. Noto os sentinelas na minha visão periférica; seus
uniformes flamejantes são um lembrete constante e doloroso da minha jaula, que
encolhe cada vez mais. Os guardas da Casa Arven também estão sempre por perto,
com seus uniformes brancos ofuscantes e poderes silenciadores. Quase sufoco com
a opressão de sua presença.
A voz do rei ecoa ao longo
da opulenta Praça de César, reverberando por uma multidão que responde na mesma
moeda. Deve haver microfones e alto-falantes em algum lugar para levar as
palavras cortantes do rei para toda a cidade e o reino inteiro.
— Aqui está a líder da
Guarda Escarlate, Mare Barrow. — Apesar da minha situação, quase dou risada. Líder.
Apesar da morte de sua mãe, Maven continua mentindo. — Uma assassina,
terrorista e grande inimiga do reino. Agora ela se ajoelha diante de nós,
sangrando.
As correntes me puxam de
novo, me fazendo cambalear para a frente. Estendo os braços para recuperar o
equilíbrio. Mal reajo, mantendo o olhar baixo. Tanta ostentação. Meu corpo se
enche de raiva e vergonha quando me dou conta do tamanho do mal que esse
simples ato vai causar à Guarda Escarlate. Vermelhos em toda a Norta vão me ver
como uma marionete de Maven e pensar que somos fracos, fracassados, indignos de
sua atenção, esforço ou esperança. Nada poderia estar mais longe da verdade.
Mas não há muito que eu possa fazer, não agora, não aqui, sujeita à misericórdia
de Maven. Penso em Corvium, a cidade militar que vi em chamas no caminho para o
Gargalo. Houve revoltas depois da minha mensagem pela televisão. Será que foi o
primeiro suspiro da revolução? Ou o último? Não tenho como saber. E duvido que
alguém vá me trazer um jornal.
Há muito tempo, Cal me
alertou contra a ameaça de guerra civil, antes de seu pai morrer, antes de ele
próprio ficar sem nada além de uma garota elétrica e tempestuosa. Revolta
dos dois lados, ele disse. Mas aqui, acorrentada diante da corte de Maven e
de seu reino prateado, não vejo nenhuma divisão. Embora eu tenha mostrado para
eles, falado da prisão de Maven, de seus entes queridos levados embora, de sua
confiança traída por um rei e sua mãe, ainda sou a inimiga. Isso me faz querer
gritar, mas sei que é melhor não. A voz de Maven sempre sairá mais alta do que
a minha.
Será que meus pais estão
assistindo? Pensar nisso me cobre de tristeza. Mordo o lábio com força
para controlar as lágrimas. Sei que tem câmeras por perto, focadas no meu
rosto. Mesmo que não consiga mais senti-las, eu sei. Maven não perderia a oportunidade
de imortalizar minha derrota.
Eles estão prestes a me ver
morrer?
A coleira diz que não. Por
que se dar ao trabalho desse espetáculo se vai simplesmente me matar? Outra
pessoa poderia sentir alívio, mas minhas entranhas gelam de pavor. Ele não vai
me matar. Não. Sinto isso em seu toque. Seus dedos longos e pálidos ainda
apertam meu punho, enquanto sua outra mão segura a coleira. Mesmo agora, quando
sou dolorosamente sua, Maven não vai me soltar. Eu preferia a morte a esta
jaula, à obsessão perversa de um jovem rei insano.
Lembro de seus bilhetes,
todos terminando da mesma maneira.
Até nosso próximo encontro.
Ele continua falando, mas o
volume de sua voz diminui na minha cabeça, como um zumbido se dissipando. Meus
sentidos ficam todos em alerta. Observo por cima do ombro. Meu olhar percorre o
grupo de cortesãos atrás de nós. Todos usam o preto do luto, orgulhosos e vis.
Lord Volo da Casa Samos e seu filho, Ptolemus, estão esplêndidos em sua
armadura escura polida, com faixas prateadas escamadas do ombro ao quadril. Ao
ver Ptolemus, minha visão fica escarlate de fúria. Luto contra o impulso de
pular e arrancar a pele de seu rosto. Perfurar seu coração como ele fez com meu
irmão Shade. O desejo transparece, e Ptolemus tem a audácia de abrir um sorriso
sarcástico para mim. Se não fosse pela coleira e pelos silenciadores
restringindo tudo o que sou, eu transformaria seus ossos em vidro fumegante.
Não sei por quê, mas sua
irmã, há tantos meses minha inimiga, não me olha. Com um vestido de cristais
pretos perfurantes, Evangeline é, como sempre, a maior estrela dessa
constelação violenta. Imagino que vá se tornar rainha em breve, tendo suportado
o noivado com Maven por tempo demais. Seus olhos escuros estão fixos nas costas
do rei, mais precisamente em sua nuca. Uma brisa sopra, agitando seus cabelos
prateados como uma cortina cintilante e jogando-os para trás dos ombros, mas
ela nem pisca. Só depois de um longo momento parece notar que a encaro. E,
mesmo assim, seus olhos mal encontram os meus. Estão vazios. Não sou mais digna
de sua atenção.
— Mare Barrow é minha
prisioneira e vai enfrentar o julgamento da Coroa e do conselho. Ela precisa
pagar por inúmeros crimes.
De que maneira?,
me pergunto.
A multidão brada em
resposta, aplaudindo a sentença. Eles são prateados “comuns”, sem ascendência
nobre. Por mais que sinta prazer nas palavras de Maven, a corte não reage. Na
verdade, alguns parecem sombrios, bravos, carrancudos — principalmente os
membros da Casa Merandus, com seus trajes de luto cortados pelo azul-escuro das
cores da rainha morta. Enquanto Evangeline me ignora, eles se concentram no meu
rosto com uma intensidade perturbadora. Olhares de um azul abrasador vindos de
todas as direções. Fico à espera de ouvir seus murmúrios na minha cabeça, uma
dúzia de vozes como vermes escavando uma maçã podre. Mas há apenas silêncio.
Talvez os oficiais da Casa Arven ao meu redor não sejam apenas carcereiros, mas
protetores também, suprimindo minha habilidade e a de todos os outros contra
mim. Ordens de Maven, imagino. Ninguém pode me ferir aqui.
Além dele.
Tudo dói. Ficar de pé, me
mexer, pensar. Por causa da queda do jato, do sonador, do peso esmagador dos
guardas silenciadores. E essas são apenas as feridas físicas. Hematomas.
Fraturas. Dores que vão cicatrizar com o tempo. O mesmo não pode ser dito do
resto. Meu irmão está morto. Sou prisioneira. E não sei o que realmente aconteceu
com meus amigos dias atrás quando fiz um pacto com o diabo. Cal, Kilorn, Cameron,
meus irmãos Bree e Tramy. Quando os deixamos para trás na clareira, estavam
feridos, imobilizados, vulneráveis. Maven pode ter mandado seus homens voltarem
para terminar o que começou. Me sacrifiquei para salvar a vida deles e nem sei
se deu certo.
Maven me responderia se eu
perguntasse. Posso ver isso em seu rosto. Seus olhos encontram os meus após cada
frase torpe, pontuando cada mentira dita a seus súditos bajuladores. Para
garantir que estou vendo, prestando atenção, olhando para ele. Como o garoto
imaturo que Maven é.
Não vou implorar. Não aqui.
Não desta forma. Sou orgulhosa demais para isso.
— Minha mãe e meu pai
morreram combatendo esses animais — ele continua. — Deram a vida para manter
este reino intacto, para manter vocês em segurança.
Mesmo derrotada, não
consigo deixar de encarar Maven, retribuindo sua chama com um resmungo de
descrença. Nós dois lembramos muito bem da morte do pai dele. De seu
assassinato. A rainha Elara usou seu poder para entrar no cérebro de Cal, transformando
o querido herdeiro do rei em uma arma mortal. Eu e Maven acompanhamos enquanto
Cal era obrigado a assassinar o próprio pai, cortando a cabeça do rei e
eliminando qualquer chance que tinha de se tornar o futuro governante.
Vi muitas cenas terríveis
desde então, mas essa memória ainda me assombra.
Não lembro muito do que
aconteceu com a rainha fora do presídio de Corros. O estado de seu corpo depois
foi prova suficiente do que o raio é capaz de fazer com a carne humana. Sei que
a matei, sem dúvida, remorso ou arrependimento, numa tempestade devastadora
alimentada pela morte repentina de Shade. A última imagem clara que tenho da
batalha é de meu irmão caindo, com o coração perfurado pela impiedosa agulha de
aço de Ptolemus. Não sei como o irmão de Evangeline escapou da minha fúria
cega, mas a rainha não teve a mesma sorte. Eu e o coronel fizemos questão de
que o mundo soubesse o que tinha acontecido com ela e exibimos seu cadáver em uma
transmissão televisiva.
Queria que Maven tivesse
parte da habilidade dela, para poder vasculhar minha cabeça e saber exatamente
que tipo de fim dei à sua mãe. Queria que sentisse a dor da perda de forma tão
terrível quanto sinto.
Seus olhos estão voltados
para mim quando termina seu discurso decorado, a mão estendida para exibir
melhor a corrente que me prende a ele. Cada gesto faz parte de seu teatro
ensaiado.
— Juro que farei o mesmo. Colocarei
um ponto final na Guarda Escarlate e em monstros como Mare Barrow ou morrerei
tentando.
Então morra,
quero gritar.
O estrondo da multidão
abafa meus pensamentos. Centenas aplaudem o rei e sua tirania. Chorei na
caminhada pela ponte, diante de tantos que me culpavam pela morte de seus entes
queridos. Ainda consigo sentir as lágrimas secando no rosto. Agora quero chorar
de novo, mas de raiva, não de tristeza. Como podem acreditar nisso? Vão mesmo
engolir essas mentiras?
Feito uma boneca, sou
tirada de vista. Com a pouca força que me resta, viro o pescoço à procura de
câmeras. Olhem para mim, imploro. Vejam como ele mente. Meu maxilar
fica tenso e meus olhos se estreitam, refletindo o que torço para ser um
retrato de resistência, revolta e fúria. Sou a garota elétrica. Sou a
tempestade. Parece mentira. A garota elétrica está morta.
Mas é a última coisa que
posso fazer pela causa e pelas pessoas que amo que ainda estão lá fora. Elas
não vão me ver fraquejar neste último momento. Não, eu vou continuar de pé. E,
embora não saiba como, tenho que continuar lutando, mesmo aqui, na barriga do
monstro.
Outro puxão me obriga a
virar de frente para a corte. Prateados frios me encaram de volta, as peles com
leves tons de azul, preto, roxo e cinza, desprovidas de vida, com aço e
diamante correndo nas veias em vez de sangue. Não focam em mim, mas no próprio
Maven. Neles, encontro minha resposta. Neles, vejo a ânsia.
Por uma fração de segundo,
sinto pena do rei menino, solitário no trono. Então, bem no fundo, sinto o sopro
ousado da esperança.
Ah, Maven. Em que confusão
você foi se meter.
Nem consigo imaginar quem
vai atacar primeiro.
A Guarda Escarlate ou os
nobres dispostos a cortar a garganta de Maven e tirar dele tudo pelo que sua
mãe morreu.
Assim que subimos os
degraus de Whitefire, o rei entrega minha coleira para um guarda da Casa Arven,
se afastando em direção ao largo salão de entrada do palácio.
Estranho. Maven estava
obcecado por me ter de volta, por me colocar em sua jaula, mas agora deixa
minhas correntes de lado sem nem olhar. Covarde, digo a mim mesma. Ele
não é capaz de me encarar sem o espetáculo.
— Você honrou sua promessa?
— pergunto, sem ar. Minha voz soa rouca pelos dias sem uso. — É um homem de
palavra?
Ele não responde.
O resto da corte surge
atrás de nós. Suas linhas e fileiras são baseadas nos meandros complexos de
status e hierarquia. Só eu estou deslocada, a primeira a seguir o rei, andando
alguns passos atrás dele, onde estaria a rainha. Eu não poderia estar mais longe
desse título.
Olho para o maior dos meus
carcereiros na esperança de ver algo além de lealdade cega. Ele usa um uniforme
branco grosso, à prova de balas, fechado até a garganta. As luvas são
cintilantes, não de seda, mas de borracha. Estremeço. Apesar de seu poder silenciador,
os Arven não vão correr nenhum risco comigo. Mesmo se eu conseguisse soltar uma
faísca apesar de seu massacre contínuo, as luvas protegeriam suas mãos para que
me mantivessem encoleirada, acorrentada, enjaulada. O grande Arven não olha
para mim; seus olhos estão focados mais à frente enquanto morde o lábio, concentrado.
O outro parece exatamente igual, andando do meu outro lado numa sincronia
perfeita com seu irmão ou primo. As cabeças raspadas brilham e me lembro de
Lucas Samos. Meu guarda gentil, meu amigo, que foi executado porque eu existia
e o usei. Tive sorte na época, quando Cal deixou um prateado bondoso para me
vigiar.
Então me dou conta de que
tenho sorte agora. É mais fácil matar guardas indiferentes. Eles precisam morrer.
De alguma forma. Para que eu possa fugir, para que recupere meu poder, eles são
os primeiros obstáculos. O resto é fácil de adivinhar. Os sentinelas de Maven,
os outros guardas e oficiais posicionados por todo o palácio e, claro, o próprio
rei. Só vou sair daqui por cima do seu cadáver — ou do meu.
Fico pensando em matá-lo.
Enrolar minha corrente em volta do seu pescoço e apertar até tirar a vida de
seu corpo. Isso me ajuda a ignorar o fato de que cada passo que dou me leva
mais para dentro do palácio, sobre o mármore branco, passando as altíssimas paredes
douradas, sob uma dezena de lustres com luzes de cristal esculpidas em forma de
chamas. Tudo tão bonito e frio como me lembro. Uma prisão com cadeados de ouro e
barras de diamante. Ao menos não vou ter que enfrentar o obstáculo mais
violento e perigoso de todos. A rainha está morta. Mesmo assim, sinto um
calafrio ao lembrar dela. Elara Merandus. Seu fantasma me assombra. Certa vez
ela despedaçou minhas memórias. Agora se transformou numa delas.
Uma figura de armadura
atravessa meu olhar fixo, passando pelos guardas para se colocar entre mim e o
rei. Ele acompanha nosso passo como um guardião obstinado, embora não use o
uniforme ou a máscara dos sentinelas. Vai ver sabe que estou pensando em
estrangular Maven. Mordo o lábio, me preparando para a dor aguda do ataque de
um murmurador.
Mas não, ele não é da Casa
Merandus. Sua armadura é de obsidiana escura, seu cabelo é prateado e sua pele
é branca como a lua. Quando volta os olhos para mim por cima do ombro, noto que
são vazios e pretos.
Ptolemus.
Avanço com os dentes, sem
saber o que estou fazendo, sem me importar. Só quero deixar minha marca. Me
pergunto se o gosto do sangue prateado é diferente do vermelho.
Mas não descubro.
A coleira me puxa para trás,
com tanta violência que minha coluna faz um arco e caio no chão. Com um pouco
mais de força, eu teria quebrado o pescoço. A pancada do crânio no mármore me
deixa tonta, mas não o suficiente para me manter no chão. Tento levantar,
estreitando os olhos em direção às pernas da armadura de Ptolemus, que agora
vira para me encarar. Mais uma vez, ataco e, mais uma vez, a coleira me puxa para
trás.
— Basta — Maven sibila.
Ele para sobre mim,
detendo-se para observar minhas tentativas fracas de me vingar de Ptolemus. O
resto da procissão também para; prateados se aglomeram para assistir à rata
vermelha se debatendo em vão.
A coleira parece ficar mais
apertada e engulo em seco, levando a mão à garganta. Maven mantém os olhos no
metal.
— Evangeline, eu disse basta.
Apesar da dor, viro para
vê-la atrás de mim, com um punho cerrado ao lado do corpo. Assim como Maven,
ela fita a minha coleira, que agora pulsa. Deve bater no ritmo do coração dela.
— Deixe que eu a solte —
ela diz. Acho que ouvi mal. — Deixe que eu a solte aqui e agora. Dispense os
guardas e vou matar essa garota, com seus poderes e tudo.
Rosno de volta, como o
monstro que pensam que sou.
— Tente — digo a ela,
desejando com todo o coração que Maven concorde. Apesar dos machucados, dos
dias de silêncio e dos anos de inferioridade em relação à magnetron, quero ver
o que ela tem a oferecer. Já a derrotei uma vez. Posso fazer isso de novo. No
mínimo, é uma chance. Melhor do que eu esperava.
Os olhos de Maven passam da
coleira para sua noiva, e seu rosto se fecha, tenso e ardente. Vejo muito da
antiga rainha nele.
— Você está questionando as
ordens do rei, Lady Evangeline?
Os dentes dela brilham
entre os lábios pintados de roxo. A máscara de boas maneiras da corte ameaça
cair, mas antes que possa dizer algo realmente condenatório, seu pai se move um
pouco, enlaçando o braço no dela. A mensagem é clara: Obedeça.
— Não — ela resmunga,
querendo dizer sim, então curva o pescoço e inclina a cabeça. —
Majestade.
A coleira afrouxa, voltando
ao tamanho normal em volta do meu pescoço. Talvez até mais frouxa do que antes.
É uma pequena bênção que Evangeline não seja tão meticulosa quanto tenta
parecer.
— Mare Barrow é uma
prisioneira da Coroa e a Coroa vai fazer com ela o que achar necessário — Maven
diz, não apenas à sua noiva impulsiva. O rei passa os olhos pelo restante da
corte, deixando suas intenções claras. — A morte é um destino bom demais para
ela.
Um rumor baixo reverbera
entre os nobres. Alguns parecem se opor, mas muitos concordam. Que estranho.
Pensei que todos quisessem me executar da pior maneira possível e me pendurar
para alimentar os abutres, exaurindo todo o terreno que a Guarda Escarlate
ganhou. Mas imagino que queiram algo pior para mim.
Pior que a morte.
Foi o que Jon me disse
antes. Quando viu o que o futuro me guardava, aonde meu caminho me levaria. Ele
sabia que isso estava por vir. E então contou ao rei. Comprou um lugar ao lado
dele às custas da vida do meu irmão e da minha liberdade.
Eu o encontro na multidão,
longe dos outros. Seus olhos estão vermelhos e pálidos, e seu cabelo
prematuramente grisalho está preso num rabo de cavalo bem-feito. Outro sanguenovo
de estimação de Maven Calore, ainda que sua coleira não seja visível. Jon ajudou
Maven a nos impedir de salvar uma legião de crianças antes mesmo que tentássemos.
Contou a Maven sobre nossos caminhos e nosso futuro. Me entregou como um
presente para o rei menino. Traiu todos nós.
Jon agora me encara. Não
espero um pedido de desculpas pelo que fez e não recebo um.
— E o interrogatório? — diz
uma voz que não reconheço à minha esquerda.
Reconheço o rosto.
Samson Merandus. Um lutador
de arena, um murmurador feroz, primo da rainha morta. Ele abre caminho até mim
e não consigo conter um calafrio. Em outra vida, eu o vi fazer um oponente se
apunhalar até a morte na arena. Kilorn estava sentado ao meu lado, vendo,
torcendo, aproveitando o que não sabia serem suas últimas horas de liberdade.
Então seu mestre morreu e todo o nosso mundo veio abaixo. Nossos caminhos
mudaram. Agora estou caída sobre o mármore impecável, com frio e sangrando. Sou
menos que um cachorro aos pés de um rei.
— Ela é boa demais para um
interrogatório, majestade? — Samson continua, estendendo a mão fria na minha
direção. Ele segura meu queixo, me obrigando a erguer os olhos. Luto contra o
impulso de mordê-lo. Não preciso dar outra desculpa para Evangeline me sufocar.
— Pense no que ela já viu. No que sabe. É a líder deles e a chave para
desvendar essa espécie maldita.
Ele está errado, mas mesmo
assim o sangue lateja em meu peito. Sei o bastante para causar muito estrago.
Tuck passa diante de meus olhos, assim como o coronel e os gêmeos de Montfort.
A infiltração das legiões. As cidades. Os assobiadores por todo o país, levando
refugiados à segurança. Segredos preciosos guardados com cuidado e prestes a
serem revelados. Quantas pessoas meu conhecimento vai colocar em risco? Quantas
vão morrer depois que me interrogarem?
E essas são apenas
informações militares. Piores ainda são as partes sombrias da minha mente. Os
cantos onde escondo meus piores demônios. Maven está entre eles. O príncipe de
que eu me lembrava, o qual amava e desejava que fosse real. E Cal. O que fiz
para continuar com ele, o que ignorei e as mentiras que conto a mim mesma
quanto à sua lealdade. Minha vergonha e meus erros me consomem, me corroem por
dentro. Não posso permitir que Samson — ou Maven — veja essas coisas.
Por favor,
quero implorar. Meus lábios não se movem. Por mais que odeie Maven, por mais
que queira vê-lo sofrer, sei que ele é minha melhor chance. Mas ser misericordioso
diante de seus mais fortes aliados e piores inimigos só vai enfraquecer um rei
já vacilante. Então continuo em silêncio, tentando ignorar a mão de Samson no meu
queixo e me concentrar no rosto de Maven.
Seus olhos encontram os
meus por um instante ao mesmo tempo muito longo e muito breve.
— Vocês já sabem suas
ordens — ele diz bruscamente, apontando para os guardas.
O aperto deles é firme mas
não agressivo enquanto me levantam, usando mãos e correntes para me levar para
longe do bando. Deixo todos para trás. Evangeline, Ptolemus, Samson e Maven.
O rei dá meia-volta,
seguindo na direção oposta, rumo a seu último recurso para se aquecer.
Um trono de chamas
congeladas.
Muito obrigado mesmo Karina quase q eu quebro o pescoço dando piruetas de felicidade por causa do livro vc é muito Diva
ResponderExcluirNé!to no capitulo 1 e ja to amando♡♡♡
ExcluirMuito obrigada karina
quase infartei
ResponderExcluirAiiiii mdsss���������� n acredito q estou lendo esse livro �������� obg Karina ����
ResponderExcluirSenhor eu sofri tanto em Espada de Vidro mas sinto q meu sofrimento em Espada de Vidro n vai ser nada comparado a esse.
ResponderExcluirvdd ;-;
ExcluirAHHHHHHHHHHHHHHHHHH KARINA EU QUASE INFARTEI DE FELICIDADE!!!!!! OBRIGADA!!!!! MDS ;U;
ExcluirAHHHHHHHHHHHHHHHHHH KARINA EU QUASE INFARTEI DE FELICIDADE!!!!!! OBRIGADA!!!!! MDS ;U;
ExcluirConcordo muito obg Karina tava quase infartando pra lê esse livro. MUITOOOOOOO OBRIGADA MESMO!
ExcluirVerdade! sofri dms quando Shade morreu
ExcluirNyki Teixeira vdd, na espada de vidro eu chorei muito com a morte do shade, e outras coisas, mas tbm to com a impressão de que nesse tbm vou sofrer muito. Ah e obrigada Karina tava mesmo precisando ler esse livro. 😘😘😘😍😍😍
ExcluirAi mds eu achei que nunca iria ler esse livro. Morta estou ! 💕💕❤
ResponderExcluirAmo a escrita da Victória, a narrativa é bonita sem ser muito poética.
ResponderExcluirMaven continua o mesmo cretino de sempre hahahaha. Tomara que a Mare arranje um jeito de escapar dai <3
Sim! Acho que é uma poesia moderada e não enrola demais nas descrições. Gosto muitoo!!!
ExcluirMaven e Mare tem bem mais química que Mare e Cal.
ResponderExcluirSei lá, sou a única doida que tem atração pelo Maven? u.u
Alguém que me entende finalmente. Eu detesto o Cal e prefiro ele morto, pena que eu já imagino que a história não cai acabar assim
ExcluirSomos 3!
ExcluirMenos a parte de Cal morto ;-;
Maven <3 tenho atração por certos vilões
~polly~
Eu também!!!! Como pelo Sebastian eu o amava 😍😍😍😍
Excluiré
ExcluirE quando a espada que é Maré estilhacar ela vai se levantar vermelha como a aurora e sair da fênix do seu vidro e enfim mandar um Foda-se pro Maven e ir pro meu Cal lindo e maravilhoso
ResponderExcluirKkkkkk amei seu comentário kkk falou td!
Excluir#melhorcomentário
ExcluirOlha até que situação ela chegou de até fazer pacto com o diabo essa Maré é demais
ResponderExcluirAaaaaaaaaaaaah to tendo um treco de felicidade :D
ResponderExcluiraltas emoções já no primeiro capítulo
:O
Aaaaaaaaaaaah tendo um treco de felicidade esperei muito por esse livro :) :D
ResponderExcluiraltas emoções já no primeiro capítulo
Tomara q a Mare escape >.<
ResponderExcluiro livro nem começou e já tô sofrendo
ResponderExcluirmavem e mare ou cal e mare
ResponderExcluirVdd. Muito sofrimento!!!
ResponderExcluirAguenta firme Mare...
Do jeito que a Victoria é, em poucos capítulos o livro vai dar uma cambalhota e vai acontecer alguma coisa que vai deixar td mundo de queixo caído kkkkk
ResponderExcluirJá tô pirando aqui!!!
ResponderExcluirSó acho, que seria bom um murmurador entrar na cabeça dela, afinal a Mare esqueceu que ao mesmo tempo que eles saberiam de tudo sobre a Guarda, também ficariam sabendo sobre todas as mentiras de Maven, assim acho que não teria como acreditarem mais nele...
Enfim deve ser por isso que o rei não deixou, e a Mare nem se tocou
É vdd...Não pensei nisso 😕
ExcluirGente!!!! Me internem. Por favor!!
ResponderExcluirEu n consigo odiar o Maven!!!! Eu amo esse cara. Ele pode ser td de ruim, mas sinto q ele ainda tem um lado bom, um lado q gosta da mare.
SERÁ Q TÔ MT LOKA????
Eu também que merda eu tô pensado tio
Excluirmano to tendo um mini-infarto aqui. te amo karina !!!!
ResponderExcluirass: piper.barrow
Meu valeu d vdd! Super feliz procurei mt esse livro! Valeu! Esse é blog é o melhor p ler online! 💯% o meu favorito! Totalmente de mais! Rsrs!
ResponderExcluirnão tem como apoiar o Maven com a Mare!! Tudo que ele faz com ela, se é voluntariamente ou não é muito desumano. Isso não passa perto de ser amor.
ResponderExcluirCal e Mare!!!!!!
As vezes penso que sou a única que sinto repulsa do Maven. No primeiro livro, gostava de quem ele fingia ser, mas desde que revelou o seu eu verdadeiro, só quero poder cuspir na cara dele.
ResponderExcluireu acho que o homem que ela ama vai nos surpreender...(estou em duvidas)
ResponderExcluirEu nunca na vida abaixaria minha cabeça, eu a ergueria e mostraria pro mundo quem eu era, o que fiz e que nao tinha medo de nada, embora não fosse verdade.
ResponderExcluirPuta merda eu fui feita pra sofrer msm, mas a Mare tbm n ajuda n
ResponderExcluirA MARE FOI FEITA PARA SOFRER, E EU SOFRO JUNTO.
ResponderExcluirCAL&MARE <3 PQ MAVEN É UM FI DE UMA MORTAAAAA E UM DESGRAÇADO DOENTE E CRUEL QUE SEI QUE AMA A MARE. ,AS ELA TEM QUE FICAR COM O CAL E . FINAL.
BY; Alícia Sales
Realmente não concigo gostar mais do Maven...ODEIO AQUELE MAVERDA!!!Vocês esqueceram que ele matou um bebê?Que torturou a Mare?Que marcou um M nela como se ela fosse um boi ?
ResponderExcluirEle é cruel e desalmado! Só por ter inveja do irmão não é justificativa pra querer mata-lo !Mare tbm tinha ciúme da Gisa mas nunca nem pensou em matar os pais ou a irmã!Não suporto ele e espero que ele tenha um fim HORRÍVEL e sozinho!!!!
Hmmmmmmmm eu to sentindo uma narração dupla aee colocou o nome da mare dps vai ter cal vai ser demaiss nem comecei a ler o livro mas vi o nome da mare e quis comentar
ResponderExcluirli o primeiro capitulo não conseguir parar muito bom.
ResponderExcluirEstou amando. Eu li os dois primeiros livros em 4 dias ♡ apesar da falta de romance, eu estou amando esses conflitos. #SaudadesShade
ResponderExcluir"As chamas mais quentes ardem azuis, e os olhos dele não são exceção."
ResponderExcluirMaven é aquele vilão que você não consegue odiar 100%
Ok, não odeio, mas ele é um idiota!
by: Vitória
"Mare"
ResponderExcluirMds! OUTROS VÃO NARRARRRRRRRR!
Acho q a Mare vai matar o Jon. E o Maven não vai deixa q "enteroguem" ela pra não descobrirem quem fez com q Cal matasse o pai.
ResponderExcluirQuantas páginas esse livro tem karyna? Em todo lugar q vejo tem 500 e poucas, mas os sites fiminuemas páginas
ResponderExcluirParece que tem 552
Excluir