As aulas naquele primeiro dia foram ao ar livre, sob o sol quente, os
alunos sentados em um semicírculo de pedras. O Mestre Rufus achava que, como a
Assembleia em breve pretendia começar andar pela floresta, era melhor usarem a
parte externa o máximo possível até lá. Call sentiu falta do frescor das cavernas.
Sua camisa logo ficou molhada de suor. Até o couro cabeludo parecia estar
queimando com o sol. O nariz e as bochechas de Aaron já estavam vermelhos, e
Tamara estava usando um dos cadernos como chapéu.
— Bem-vindos ao Ano de Bronze do Magisterium — disse Mestre Rufus,
andando de um lado para o outro na frente deles, a cabeça careca brilhando. —
Vocês podem não ser a maior encrenca que já peguei em termos de aprendizes, mas
certamente estão quase lá. Vamos tentar conduzir este ano de um jeito diferente.
Considerando que Mestre Rufus se referia a um antigo grupo de
aprendizes que incluía o próprio Capitão Cara de Peixe, isso realmente era
significativo.
— Todos nós acabamos de receber medalhas! — disse Tamara, que recebeu
um olhar severo por interrompê-lo, mas continuou assim mesmo: — Somos o oposto
de encrenca.
As sobrancelhas do Mestre Rufus fizeram um movimento complicado,
subindo e sacudindo ao mesmo tempo.
— Mesmo assim, vamos tentar nos certificar de que nenhum de vocês seja
sequestrado ou partam em missões de resgate ou adotem mais animais Dominados
pelo Caos ou abandonem a escola por algum motivo.
Ninguém teve o que responder diante disso.
— Este ano aprenderemos sobre responsabilidade pessoal. Vocês podem
achar que isso não seja particularmente parecido com uma lição de mágica, mas
foi no Ano de Bronze que Constantine iniciou seus experimentos com Mestre
Joseph, tentando descobrir um caminho para a imortalidade. Este é o ano em que
vocês deixam o básico para trás e começam a focar naquilo em que podem se especializar.
Sendo assim, queremos ter certeza de que todos, mas principalmente Call e
Aaron, entendam a amplitude de implicações embutidas em cada especialização. É
bom que comecem a pensar nos limites da magia do caos. Em como é irresponsável
e desonesto usar métodos que ponham vidas em risco só para descobrir esses
limites. Como todas as escolas, estamos sempre interessados em aprendizado, pesquisa
e em ampliar os limites do conhecimento. Mas temos de equilibrar isso com a
nossa obrigação de proteger o mundo, mesmo que seja de nós mesmos. E — Mestre
Rufus prosseguiu — quero que se lembrem que, nos anos anteriores, vocês atravessaram
os portões da magia antecipadamente. Isso deve lhes ensinar não que são
melhores do que os outros alunos, mas que os portões da magia só se abrem
quando o aluno está pronto. Se não aprenderem as lições do Ano de Bronze,
permanecerão no ano de Bronze até que o façam.
Call olhou para Aaron e Tamara. Pareciam tão assolados quanto o
próprio Call. Não sabia ao certo como nenhuma das coisas que o Mestre Rufus
estava falando poderia ser ensinada na escola. Era remotamente possível, no
entanto, que seu cérebro estivesse ficando lento por insolação.
— Mais uma coisa — disse Mestre Rufus. — Em relação ao espião no
Magisterium. Tamara, acho que não falei diretamente com você sobre isso, mas
tenho certeza de que Call ou Aaron já lhe informaram, então não vou constranger
a nenhum de nós fingindo o contrário. Você tem direito de saber. Contudo, eu
insisto, insisto, que não tentem capturar o espião por conta própria. Deixem
isso conosco.
Nenhum dos dois disse nada.
As sobrancelhas do Mestre Rufus ficaram ainda mais unidas.
— Entenderam?
Call assentiu.
— Claro — disse Aaron.
— Tudo bem — disse Tamara.
Foi a cena menos convincente que Call já tinha visto na vida. Ele não
sabia ao certo se Mestre Rufus tinha acreditado ou simplesmente desistido
quando fez que sim com a cabeça e falou.
— Ótimo! Agora, acho que nossa primeira aula deve ser sobre o elemento
água e sobre como equilibrá-la com o ar de modo a podermos respirar quando
submersos. Sei exatamente em que lago podemos treinar.
Call ficou de pé num pulo, feliz com a ideia de se refrescar. Só
quando começaram a se mover que ele se lembrou do corpo de Jen flutuando no mar
e ficou imaginando se haveria algum motivo para o Mestre Rufus ter colocado
esta aula no primeiro dia.
Apesar dos pensamentos sombrios de Call, a turma passou um dia
agradável boiando na parte rasa de um pequeno lago perto da escola. Mestre Rufus
deu a cada aluno um amuleto cheio de ar, de onde poderiam extrair oxigênio
enquanto estivessem embaixo d’água. Nas primeiras tentativas, Call não conseguiu
se concentrar e emergiu, cuspindo e engasgando. Aaron também não se saiu muito
bem, mas Tamara pareceu tranquila.
Frustrado, Call por fim pegou o amuleto e mergulhou em direção ao
fundo do lago. Ele sempre gostou de nadar — na água, sua perna não doía. Ele
manteve os olhos abertos. A água era um pouco lodosa, mas fresca; dava para ver
as formas borradas de Tamara e Aaron debaixo dela.
Por algum motivo, Call pensou no pai. Tinha visto nas lembranças de
Mestre Joseph como Alastair havia escalado a face de uma geleira para chegar
até a cena do Massacre Gelado, onde o Inimigo da Morte tinha matado dezenas de
magos indefesos. Alastair tinha feito isso pela mulher e pelo filho; utilizara
magia da água para formar apoios para as mãos e os pés na face da geleira. Deve
ter sido exaustivo. Deve ter parecido impossível.
Comparado àquilo, isso aqui não era nada.
Call apertou o amuleto com força, tanto que teve a impressão de tê-lo
sentido rachar. Ar, pensou. Ar ao seu redor, havia ar na água, todos os
elementos eram um só, fogo, ar e água... É tudo uma coisa só, não são quatro,
nem duas, nem três, mas uma.
Ele abriu a boca e respirou.
Foi como respirar um ar úmido e pantanoso. Ele engasgou um pouco,
deixando o corpo boiar para o alto enquanto o ar preenchia os seus pulmões. A
segunda vez que puxou o ar foi mais fácil, e na terceira e na quarta ele estava
respirando normalmente. Estava em pé, no fundo do lago, respirando normalmente.
Muito contente, Call jogou o amuleto de lado e começou a emergir até romper a superfície
com um grito.
— Consegui! — gritou. — Respirei embaixo d’água!
— Eu sei! — disse Tamara, jogando água. — Eu vi!
— Uhul! — disse Aaron. Ele socou a superfície do lago, fazendo-a
esguichar para cima. — Você é incrível!
— Alô, todos nós somos! — protestou Tamara.
Call nadava em círculos, mergulhando para respirar e voltando à tona.
Ele esguichou água e sorriu.
Às vezes a mágica era realmente tão incrível quanto ele secretamente
torcia para que fosse.
Naquela noite, Tamara, Call, Aaron e Jasper eram as únicas pessoas na
biblioteca. Os quatro reuniam-se em torno de uma mesa onde uma luz brilhava em
um abajur cuja cúpula era a concha de uma lesma marinha enorme. Mantiveram as
vozes baixas; o som tendia a ecoar naquela grande sala de pedra.
— Então a questão é saber se a pessoa que tentou matar Call na
cerimônia é alguém que estaria no Magisterium — disse Tamara, mexendo em alguns
papéis. — Fiz uma lista de todas as pessoas que estudam ou dão aula aqui, assim
como membros da Assembleia que têm trânsito livre.
Jasper se inclinou para frente para olhar a lista.
— Você não está nela — disse ele.
— Claro que não! — Tamara ficou vermelha. — Eu não tentei matar Call.
— Kimiya também não tá — disse Jasper. — Nem Aaron.
— Porque eles não estão tentando me matar — disse Call.
— Você não tem como saber — disse Jasper. — A lista deve ser objetiva.
Eu também tenho que estar nela.
— Você está — disse Tamara. — Pode acreditar.
Jasper fez uma careta.
— Ótimo.
— Vejam, eu sei que nos metermos onde não somos chamados é a nossa
marca registrada — disse Call, interrompendo os amigos. — Mas que tal se dessa
vez a gente não tentasse pegar o espião por conta própria? O Mestre Rufus disse
que eles têm um plano, a madrasta do Alex está aqui para preparar uma
armadilha. Talvez a gente possa deixar isso por conta deles.
Todos encararam Call como se ele tivesse duas cabeças. Finalmente
Aaron se manifestou.
— Você bebeu muita água do lago hoje ou coisa do tipo? Você jamais
diria uma coisa dessas se fosse um de nós correndo perigo.
— Pense desta forma — disse Jasper. — Se a mesma pessoa que soltou o
Automotones tentou derrubar o lustre em você, então qualquer pessoa ao seu lado
tem tanta probabilidade de ser assassinada quanto você. Então, pelo meu próprio
bem, eu quero investigar.
Call não tinha como argumentar contra uma lógica dessas.
— Estive pensando — disse Tamara. — Precisamos descer nos túneis onde
os grandes elementais ficam. Talvez a gente consiga descobrir quem teve acesso
ao Automotones e como. Podemos usar essa lista para ver se alguma dessas
pessoas esteve lá embaixo; deve haver algum registro de visitantes ou de pessoas
autorizadas a entrar.
— Mas será que os magos já não fizeram isso? — perguntou Aaron.
Tamara deu de ombros.
— Mesmo que tenham, eles não vão dar os nomes. Os túneis são um bom
lugar para começarmos a reduzir nossa lista de suspeitos.
— Acho que alguém passou as férias lendo livros de mistério — comentou
Jasper.
Tamara ofereceu a ele um sorriso cheio de dentes.
— Acho que alguém vai levar um soco na cara.
— Você tem uma ideia melhor? — perguntou Aaron. — Porque se não tiver,
não critique.
— E se Call se fizer de isca? — sugeriu Jasper. — Quer dizer, por que
termos todo esse trabalho quando podemos fazer o assassino vir até nós? É só
espalharmos que Call vai estar em algum lugar afastado, sozinho, e depois,
quando o assassino aparecer para acabar com ele, a gente ataca e...
— Ei, calma aí — disse Call. — Essa ideia é idiota.
— Achei que não fosse para criticar — disse Jasper, sorrindo de
satisfação. — Acho que não tem como um plano desses dar errado.
Tamara balançou a cabeça.
— Call pode acabar morrendo!
— Ainda assim pegaríamos o espião — respondeu Jasper, depois fez uma
careta após levar um chute violento por baixo da mesa. — Quê? Não são muitos
planos que vêm com essa garantia embutida!
— Vamos tentar a estratégia da Tamara primeiro — disse Aaron, que logo
depois bocejou e ficou de pé. — Amanhã, depois da aula, a gente se encontra
aqui de novo. Podemos olhar os mapas do Magisterium para ver se conseguimos
descobrir onde ficam os elementais. Eu fico com o primeiro turno hoje à noite.
Tamara, Call, vocês dois podem dormir.
— Então até mais, babacas — disse Jasper que foi embora pela escada em
espiral, subindo dois degraus por vez.
Call queria protestar, dizer que era desnecessário que um deles
ficasse acordado vigiando, mas ninguém ia dar ouvidos. Ele se levantou com um
suspiro e seguiu Tamara e Aaron de volta para os respectivos quartos.
Mas, no meio do caminho, uma ideia súbita o fez parar.
— Eu sei quem teria acesso a esses elementais! — disse Call — Warren!
No fim das contas, o pequeno lagarto era um elemental do fogo e,
apesar de não ser totalmente confiável, ele conhecia as dependências do
Magisterium melhor do que qualquer um ou qualquer coisa.
Ele já tinha guiado o grupo pelos labirintos antes é bem verdade que
isso os havia colocado no radar de um elemental mais poderoso e sinistro —, mas
ainda assim, nada de tão ruim aconteceu.
Além disso, no ano anterior eles haviam salvado a vida de Warren. Na
ocasião, o Mestre Rufus preparou um teste para a magia do caos em que Aaron
deveria mandar o lagarto para o vazio. Call não sabia ao certo o que acontecia
com coisas que eram sugadas para o nada, mas tinha certeza de que não sobreviveriam.
Ele tinha ajudado Aaron a fazer algumas mágicas complexas para que o lagarto
pudesse escapar. Até onde Call sabia, Warren estava em dívida com eles.
— Vamos — disse ele, dando meia-volta no meio do corredor. — Por aqui.
Quanto mais tempo o espião estivesse entre eles, mais tempo os amigos
ficariam na cola de Call como se houvesse algo de errado. Ele detestava isso.
Não queria que ficassem acordados enquanto ele dormia. Não queria que corressem
perigo. Se havia algo a ser feito, ele queria fazer agora.
— Aonde vamos? — Tamara protestou quando viu que iriam voltar pelo
caminho percorrido. — Voltar para a biblioteca?
O corredor se dividia em dois. Call foi para a esquerda. Ele se
lembrou de como achou que jamais fosse aprender a se localizar nos túneis
quando chegou ao Magisterium, com seus corredores que pareciam labirintos
passando por baixo e através da montanha. Mas ele aprendeu, e agora caminhar pelos
andares superiores do Magisterium era tão familiar quanto andar pelas ruas da
cidade onde morava.
— Vamos para o rio? — perguntou Aaron meio que sussurrando.
O ar nos túneis começava a ficar mais úmido. Passaram pelos quartos de
vários outros grupos de aprendizes, nenhuma luz saindo pela fresta embaixo de
cada porta. O Magisterium dormia.
Os rios que corriam pela escola eram seu sistema vascular. Levavam
alunos das salas para os portões da área externa, para o refeitório e de volta
aos quartos. Pequenos barcos trafegavam por esse sistema, guiados por mágica e
assistidos por elementais da água. Na medida em que Call, Aaron e Tamara se aproximaram
da água, a caverna se tornou mais fria e Call pôde ouvir o ruído da correnteza.
Aaron e Tamara murmuravam a respeito de Call estar levando-os até um
barco. O corredor se abriu em uma praia de pedras subterrânea. Lodo
fosforescente se agarrava às paredes e ao teto, iluminando o espaço. Peixes
cegos nadavam.
— Warren! — chamou Call. — Warren!
Aaron e Tamara trocaram um olhar. Estava claro que achavam que Call
tinha enlouquecido.
— Talvez ele precise dormir — disse Tamara.
— Talvez precise comer — disse Aaron.
— Warren! — Call gritou novamente. — O fim está mais próximo do que
imagina!
— Lagartos não vêm quando a gente chama — disse Tamara. — Vamos sair
daqui, Call...
Alguma coisa se mexeu das pedras acima deles. Então um vislumbre de
fogo, uma luz refletindo em algo escamoso. Olhos vermelhos brilharam no escuro.
O que parecia um dragão de Komodo minúsculo, com uma barba e uma crista de fogo
nas costas, se arrastou na direção deles pelas pedras.
— Warren? — disse Call.
— Ele realmente veio — Aaron pareceu impressionado. — Incrível, Call.
— Sorrateiros. — Warren parecia irritado. — Sorrateiros e incomodando
Warren. O que vocês querem, estudantes magos?
— Queremos que nos leve aos elementais adormecidos. Os que são presos
pelo Magisterium — respondeu Call.
— Agora? — perguntou Tamara, virando para Call. — Achei que a gente
estivesse indo dormir!
— Sim, dormir. Andar furtivamente por aí perigoso — disse Warren. —
Túneis muito profundos.
— Você está em dívida com a gente, Warren — disse Call. — Salvamos a
sua vida. Não se lembra?
— Já paguei — murmurou Warren. — Avisei. Ultima Forsan.
— Isso não ajuda em nada — disse Call. Ele sabia o que Ultima Forsan era: a frase em latim
gravada no jazigo perpétuo do Inimigo da Morte. Significava O fim está mais próximo do que imagina.
Call só não conseguia entender como isso poderia ser um alerta útil. — Nos
levar até os elementais é o que ajudaria.
— Talvez você não saiba como chegar lá — disse Aaron, provocando o
lagarto. Apesar de ter sido ele quem bocejou de sono na biblioteca, agora
estava com os olhos brilhando e não parecia nem um pouco cansado. Aaron não era
do tipo que gostava de falar sobre fazer coisas, mas sim de fazê-las. — O problema
é esse? No fim das contas talvez você não saiba tanto assim sobre o
Magisterium.
Os olhos vermelhos de Warren moveram-se rapidamente.
— Eu sei — disse ele. — Sei tudo. Mas isso é perigoso, pequenos
estudantes de magos. Assunto perigoso. Posso levar vocês, mas vão ter que
enganar a guardiã.
— A guardiã? — perguntou Tamara, apavorada.
Call também gostaria de maiores esclarecimentos, mas Warren,
aparentemente decidindo que sua participação na conversa tinha acabado, pulou
para a parede de mica brilhante e correu para cima, antes de disparar na
direção da entrada da outra caverna.
— Sigam aquele lagarto! — anunciou Call, indo atrás dele.
Tamara resmungou, mas foi atrás.
Ele tinha se esquecido que se deixar guiar por Warren pelas cavernas
do Magisterium — inclusive por algumas passagens que talvez jamais tivessem
sido usadas por nenhum mago antes deles — era um exercício frustrante e por
vezes assustador. O lagarto os conduziu por penhascos naturais e por lagos que
pareciam ser de lama fervente. Warren os guiou por recintos nos quais quase
engasgaram com o cheiro de enxofre e nos quais tinham que se encolher e desviar
para não serem arranhados por estalactites pontiagudas.
Call não sabia ao certo o quanto tinham andado quando sua perna
começou a doer — o tipo de dor muscular violenta que só ia piorar. Ele se
sentiu idiota por sugerir que fizessem isso, por pensar que poderia andar
tanto, mas não podia pedir que Warren parasse — o lagarto estava muito
adiantado em relação a eles, pulando de rocha em rocha, os cristais brilhando
em suas costas.
E se Tâmara e Aaron parassem para esperá-lo, Warren podia disparar,
deixando o grupo perdido nas cavernas. Isso já tinha acontecido antes.
A título de teste, Call invocou magia do ar, empurrando de leve. Ele
se lembrou de como Alastair o levou pelos muitos degraus do Collegium. Ele se
lembrou de como havia descido sozinho. Tudo que tinha de fazer era se
concentrar e empurrar.
Call levitou, rápido o suficiente para ter que morder o lado da
bochecha a fim de evitar um grito, mas logo conseguiu se estabilizar. Estava
flutuando só um pouco acima do solo e não tinha nenhum peso na perna. Sentiu-se
ótimo.
Call foi então propelindo o corpo com o poder da mente, sem tropeçar
mais como Aaron e Tamara. Deslizava sobre a terra como se tivesse sido feito
para andar assim. Ao prosseguirem, as passagens se aprofundavam na montanha, as
paredes tomavam mais lisas e o chão, mais lustroso. Era como se percorressem o
corredor de um museu. As portas na pedra de cada lado eram elegantes, decoradas
com símbolos alquímicos e alfabetos que Call não conhecia.
Finalmente, Warren parou diante de uma porta imensa feita com os cinco
metais do Magisterium — ferro, cobre, bronze, prata e ouro.
— Aqui, estudantes de magos. Aqui está a porta no caminho do caminho.
A guardiã está aqui. Vocês devem enfrentá-la para seguir adiante.
— O que a gente faz?
— Respondam os enigmas — disse Warren, que esticou a língua para
capturar um inseto que Call não tinha visto até então e correu pelo teto. —
Enigmatizem as respostas dela! — gritou ele antes de desaparecer.
— Droga — disse Aaron. — Isso sempre acontece. Odeio enigmas.
Tamara parecia engolir as palavras eu sabia e detestar o gosto delas.
— A gente simplesmente bate? — Call levantou a mão fechada em punho e
hesitou.
— Eu bato — Tamara bateu à porta. — Olá? Somos alunos e viemos fazer
um projeto...
A porta abriu. Lá dentro, com um terno branco absolutamente intocado,
estava Anastasia Tarquin.
Sua nuvem de cabelo prateado estava penteada para trás com firmeza e
os brincos de prata em suas orelhas pareciam ter sido enfeitiçados para brilhar
daquela forma. Suas sobrancelhas feitas se ergueram ao ver o grupo, e a boca
comprimiu-se em uma linha fina.
— Você é a guardiã? — perguntou Aaron, incrédulo.
— Não sei do que você está falando — disse ela, abrindo mais a porta.
Atrás dela, dava para ver um longo corredor que descia. Dois meninos com idade
de frequentar o Collegium, uniformizados, estavam junto às paredes. Guardas, Call pensou. — O que eu sei é
que vocês não deveriam estar aqui.
— O Mestre Rufus quer que comecemos um projeto — disse Call. — Como
Tamara disse. É nosso Ano de Bronze e temos que começar a decidir sobre o nosso
futuro e responsabilidades. Como estamos pensando em nos especializar em
elementais pensamos em, hum, conhecer alguns.
— Os três? — perguntou Anastasia. — Inclusive os dois mágicos do caos?
Todos querem se especializar em elementais?
— Estamos pensando. — Aaron respondeu rapidamente. — Não queremos nos
precipitar, mas é interessante. Achamos que se pudéssemos ver alguns dos
melhores elementais, poderíamos ter certeza do que queremos.
Anastasia Tarquin não pareceu acreditar nem um pouco.
— Temo informar que, apesar de alguns alunos terem sido autorizados a
entrar, embora com baixíssima frequência, esse privilégio foi suspenso por
motivos que imagino que conheçam.
Automotones. Call se lembrou do enorme monstro de metal vindo para cima deles,
rasgando o ar como fogo e garras.
— Agora — disse Anastasia —, a não ser que queiram que eu discuta a
questão com Mestre Rufus, sugiro que voltem pelo caminho que vieram, e vamos
todos fingir que não nos vimos.
Call olhou de Tamara para Aaron.
— E nada de enigmas — suspirou Aaron. Em seguida, sempre educado, ele
virou para Anastasia Tarquin. — Sentimos muito pelo incômodo.
Ela, no entanto, não parecia particularmente encantada por ele. Seus
olhos não perderam a rigidez usual.
— Só um instante — disse ela, mas não estava olhando para Aaron. —
Callum Hunt. Entre. Gostaria de falar com você. A sós.
— Comigo? — perguntou Call, com a voz levemente esganiçada. Ele não
esperava por isso, e com toda a questão do espião, não sabia se queria ficar
sozinho com qualquer membro da Assembleia. Mas Anastasia era madrasta de Alex e
tinha sido enviada pela Assembleia para protegê-lo. — Tudo bem.
Tamara e Aaron olharam em silêncio para ele. Call tinha toda certeza
de que os dois não iriam querer trocar de lugar com ele naquele momento.
Ele passou pela porta que logo em seguida Anastasia fechou com uma
batida pesada.
Ela colocou uma das mãos no ombro de Call.
— Você deve estar muito preocupado para vir até aqui procurando
respostas — disse ela, sua voz suavizando de um jeito que o deixou nervoso. Call
pensou em como as cobras que ele via na televisão faziam uma pequena dança
antes de atacarem. — E eu sei o quanto você é próximo de Aaron. Vocês cuidam um
do outro, não é?
— Sim? Quer dizer, sim. Aaron, Tamara e eu. Todos nós.
— É muito bom ter amigos próximos — disse Anastasia, assentindo. —
Principalmente quando se tem um pai que não aprova magia.
— Meu pai está começando a ceder — disse Call, tentando adivinhar qual
era o assunto.
— Quando me casei com o pai de Alex, jurei que jamais tentaria substituir
a mãe dele. Eu tinha meus filhos do primeiro casamento e sabia o quanto era
importante não tentar me impor onde não me queriam. Tentei ser amiga, guia,
mentora. Alguém que pudesse responder as perguntas dele objetivamente, como
muitos adultos não fazem. Eu ficaria feliz em fazer o mesmo por você, se algum dia
precisar conversar com alguém.
— Hum, tudo bem — disse Call, confuso com toda aquela conversa. Ele
tentou olhar um pouco além de Anastasia, ver o que havia escondido atrás dela.
Os dois guardas do Collegium estavam completamente mudos, encostados às paredes
da sala como armaduras. Havia um jornal em cima de um sofá, provavelmente onde
ela estivera sentada, e um corredor que se estendia atrás. Um brilho vermelho
profundo iluminava as paredes. — Então, definitivamente não vai nos deixar
entrar?
Anastasia pareceu entretida em vez de irritada.
— Você quer que eu diga que deixaria se pudesse, imagino. Mas você não
faz ideia do quão perigosos são os grandes elementais. Seria quase o mesmo que
jogá-lo na boca de um vulcão. Um amigo jamais o colocaria em perigo, Callum,
você entende?
— Porque eu sou um Makar —, disse Call. — Eu entendo, mas...
— Sem “mas”. — Anastasia balançou a cabeça. — Você e Aaron deveriam
voltar para dormir. São importantes demais para se arriscarem. Tente se lembrar
disto.
Com isso, ela abriu a porta. Quando Call saiu para onde Aaron e Tamara
o aguardavam, ouviu a porta bater atrás de si.
Ela quis dizer que a Tamara não é importante e se ela morrer tanto faz
ResponderExcluirÉ também percebi isso
ExcluirInfelizmente, também percebi. Achei que tinha sido ilusão da minha mente, mas pelo visto ñ fui a única...
ExcluirNão é? Foi tipo assim, Aaron e Callum são importantes demais para se machucarem, já você, bem, é você.
ExcluirFora que ela perguntou somente de Aaron para Call, como se no grupo só os dois importassem.
E também: Você e Aaron deviam voltar a dormir. São muito importantes.
Cadê Tamara ai povo??
Também percebi, e isso é revoltante.
ResponderExcluirTamara é super importante. Na missão deles, ela quebrou muitos galhos com suas magias.
"Contudo, eu insisto, insisto, que não tentem capturar o espião por conta própria. Deixem isso conosco."
ResponderExcluirÉ a mesma coisa de pedir:"Por favor,procurem o espião para nós!"
Eu não gosto dessa Anastasia
ninguem gosta
ExcluirEu muito encabulado com Anastácia e Alex posso taenganado
ExcluirPor mais que a Anastasia seja suspeita (eu suspeito mto dela), agora tenho minhas dúvidas. Exatamente porque está mto óbvio que ela possa ser uma vilã. Ela chamar o Call pra conversar em particular pode ser porque está interessada em dar o golpe do baú, no pai dele kkkkk
ResponderExcluirAnastasia parece suspeita, só por isso não vou suspeitar dela. Naa nunca é o que parece. E aquela merda de um deles morrer nunca sai da minha cabeça. Ainda acho que é o Aaron.
ResponderExcluircara n sai da minha tbm o fato de um dos tres morrer no final espero que nenhum morra,como as coisas nuncam aparentam ser oque er.
Excluirferro, cobre, bronze, prata e ouro. Ainda tem mais dois livros?
ResponderExcluirIsso mesmo!
Excluir