Los Angeles, 2012
As noites no
Mercado das Sombras eram as preferidas de Kit.
Eram as
noites em que ele podia sair de casa e ajudar o pai no estante. Frequentava o
Mercado das Sombras desde os 7 anos. Oito anos mais tarde, ele ainda tinha a
mesma sensação de choque e encanto quando caminhava pelo Beco Kendall, na parte
antiga de Pasadena, em direção e uma parede de tijolos – e a atravessava para
um mundo explosivo de luz e cor.
A apenas
alguns quarteirões, havia lojas da Apple vendendo engenhocas e laptops, grandes
restaurantes e mercados de alimentos orgânicos, lojas multimarcas e butiques da
moda. Mas aqui o beco desembocava em uma praça imensa, protegida por todos os
lados para impedir que os descuidados vagassem para o Mercado das Sombras.
O Mercado
das Sombras de Los Angeles surgia nas noites quentes, e, ao mesmo tempo,
existia e não existia. Kit sabia que quando passava pelas fileiras de estandes
coloridos e decorados, estava caminhando por um lugar que desapareceria quando
o sol nascesse.
Mas quando
estava lá, ele gostava. Uma coisa era ter o Dom quando ninguém ao seu redor o
tinha. O Dom era como seu pai chamava, apesar de Kit não considerar um dom.
Hyacinth, a adivinha de pele azul do estande na beira do mercado, chamava de
Visão.
Esse nome fazia
mais sentido para Kit. Afinal de contas, a única coisa que o separava das
crianças normais era o fato de que ele podia ver coisas que os outros não viam.
Às vezes, eram coisas inofensivas: duendes elevando-se da grama seca nas
calçadas rachadas, os rostos pálidos de vampiros em postos de gasolina tarde da
noite, um homem estalando os dedos em uma bancada de lanchonete; quando Kit
olhava outra vez, via que os dedos eram garras de lobisomem. Isso acontecia
desde que ele era criança, e também acontecia com seu pai. A Visão era
hereditária.
Combater o
impulso de reagir era o mais difícil. Uma tarde, voltando da escola, ele viu um
bando de lobisomens brigando por território, se destruindo em um parquinho
deserto. Ele ficou parado na rua e gritou até a polícia aparecer, mas eles não
viram nada. Depois disso seu pai passou a mantê-lo em casa, deixando que
estudasse sozinho com livros antigos. Kit jogava videogame no porão e raramente
saía, durante o dia, ou quando o Mercado das Sombras estava ativo.
No Mercado,
ele não tinha que se preocupar com nenhuma reação. O lugar era colorido e
bizarro até para os próprios habitantes. Havia ifrits mantendo os gênios
performáticos em coleiras, e belas garotas fadas dançando diante de estandes
que vendiam pós brilhantes e perigosos. Uma banshee cuidava de uma tenda que
prometia revelar quando você morreria, apesar de Kit não conseguir imaginar por
que alguém gostaria de saber isso. Um cluricaun se oferecia para encontrar
coisas perdidas, e uma bruxa jovem e bonita com cabelos curtos, verde néon,
vendia pulseiras encantadas e pingentes para atrair romance. Quando Kit lhe
encarou, ela sorriu.
— Ei, Romeu.
— O pai o cutucou nas costelas. — Eu não te trouxe aqui para flertar. Me ajude
com a placa.
Ele chutou o
banquinho de metal para Kit e lhe entregou uma placa de madeira, na qual tinha
talhado o nome do estande: JOHNNY ROOK.
Não é o
título mais criativo, Kit pensou, enquanto escalava para pendurar a placa, para
alguém cuja clientela incluía feiticeiros, lobisomens, vampiros, duendes,
criaturas, espíritos e, uma vez, uma sereia (se encontraram secretamente no Sea
World).
Mesmo assim,
talvez uma placa simples fosse a melhor opção. O pai de Kit vendia poções e pós
– e até, por baixo dos panos, algumas armas de legalidade duvidosa – mas não
era nada disso que atraía as pessoas para a barraca. O fato é que Johnny Rook
era um cara que sabia das coisas. Não acontecia nada no Submundo de Los Angeles
que ele não ficasse sabendo, não havia ninguém tão poderoso de quem ele não
soubesse algum segredo, ou uma maneira de entrar em contato. Ele era um cara
que tinha informações, e, se você tivesse dinheiro, Johnny contava.
Kit pulou do
banquinho, e o pai lhe deu duas notas de cinquenta.
— Arrume uns
trocados com alguém — falou, sem olhar para o menino. Ele tinha pegado o livro
vermelho de registros e o estava analisando, provavelmente tentando descobrir
quem lhe devia dinheiro. — Não tenho notas menores.
Kit fez que
sim com a cabeça e saiu da barraca, satisfeito por se retirar. Qualquer tarefa
era uma desculpa para andar por aí. Ele passou por um estande cheio de flores
brancas que exalavam une aroma sombrio, doce e venenoso, e outro, onde um grupo
de pessoas com roupas caras distribuía panfletos na frente de uma placa que
dizia PARTE SOBRENATURAL? VOCÊ NÃO É O ÚNICO. OS SEGUIDORES DO GUARDIÃO QUEREM
QUE VOCÊ SE INSCREVA NA LOTERIA DO FAVOR! DEIXE QUE A SORTE ENTRE EM SUA VIDA!
Uma mulher
de lábios vermelhos e cabelos escuros tentou colocar um panfleto na mão dele.
Quando Kit não o pegou, ela lançou um olhar sensual por cima dele, em direção a
Johnny, que sorriu. Kit revirou os olhos – havia milhões de pequenos cultos que
surgiam e adoravam algum demônio ou anjo menor. Nada parecia resultar deles.
Kit procurou
uma de suas barracas favoritas e comprou um copo de raspadinha gelada vermelha,
com gosto de maracujá, framboesa e creme, tudo misturado. Ele tentava ter cuidado
quanto a de quem comprar – havia balas e bebidas no Mercado que poderiam
arruinar a sua vida – mas ninguém correria riscos com o filho de Johnny Rook.
Johnny Rook sabia de coisas sobre todo mundo. Quem o irritasse poderia
descobrir que seu segredo não era mais secreto.
Kit voltou
para a bruxa com as joias encantadas. Ela não tinha uma barraca; estava, como
sempre, sentada sobre um sarongue estampado, do tipo de tecido barato e
colorido que se podia comprar em Venice Beach. E levantou o olhar quando ele se
aproximou.
— Oi, Wren —
falou ele.
Duvidava de
que esse fosse o seu nome verdadeiro, mas era como todos no Mercado a chamavam.
— Oi, bonitão.
— Ela chegou para o lado e abriu caminho para ele, as pulseiras e tornozeleiras
balançando. — O que o traz às minhas humildes instalações?
Ele sentou
ao lado dela no chão. Seu jeans era velho, com buracos nos joelhos. Ele
gostaria de poder guardar o dinheiro do pai para comprar roupas novas.
— Meu pai
precisa de troco para duas notas de cinquenta.
— Shh. — Ela
acenou para ele. — Tem pessoas aqui que cortariam sua garganta por duas notas
de cinquenta e venderiam seu sangue como togo de dragão.
— Não comigo
— afirmou Kit, confiante. — Ninguém tocaria um dedo em mim. — Ele se inclinou
para trás. — A não ser que eu queira.
— E eu aqui
achando que já gastara todos os meus encantamentos do flerte desavergonhado.
— Eu sou seu encantamento de flerte
desavergonhado. — Ele sorriu para duas pessoas que estavam passando: um menino
alto e bonito, com uma mecha branca no cabelo escuro, e uma menina morena cujos
olhos estavam cobertos por óculos escuros.
Eles o
ignoraram. Mas Wren se levantou ao ver os dois frequentadores do Mercado que
vinham logo atrás: um homem corpulento e uma mulher de cabelos castanhos que
desciam pelas costas num rabo de cavalo torcido.
— Amuletos
de proteção? — perguntou Wren, num tom encantador. — Proteção garantida. Também
tenho ouro e bronze, além de prata.
A mulher
comprou um anel com uma pedra lunar e seguiu seu caminho, conversando com o
companheiro.
— Como você
sabia que eles eram lobos? — perguntou Kit.
— O olhar
dela — disse Wren. — Licantropes são compradores impulsivos. E os olhares deles
evitam qualquer coisa de prata. — Ela suspirou. — Tenho trabalhado muito com
amuletos de proteção desde que aqueles assassinatos começaram.
— Que
assassinatos?
Wren fez uma
careta.
— Algum tipo
de magia louca. Cadáveres aparecendo cobertos por símbolos demoníacos.
Queimados, afogados, mãos decepadas; todo tipo de boatos. Como você não ouviu
falar? Não presta atenção em fofocas?
— Não —
respondeu Kit. — Na verdade, não. — Ele observava o casal de lobisomens
caminhando para a extremidade norte do Mercado, onde os licantropes costumavam
se reunir para comprar o que quer que precisassem; talheres de madeira e ferro,
ervas, calças rasgadas (ele torcia).
Apesar de o
Mercado ser, supostamente, um lugar onde integrantes do Submundo interagiam,
eles tendiam a se agrupar por espécie. Havia a área na qual os vampiros se
reuniam para comprar sangue com sabor ou procurar novos subjugados entre
aqueles que tinham perdido seus mestres. Havia os pavilhões de vinhas e flores
onde as fadas se encontravam, vendendo encantos e sussurrando feitiços. Elas se
mantinham afastadas do resto, proibidas de negociar como os outros.
Feiticeiros, raros e temidos, ocupavam barracas no final do Mercado. Cada
feiticeiro exibia uma marca proclamando sua herança demoníaca: alguns tinham
caudas ou chifres curvados. Uma vez Kit viu uma feiticeira de pele inteiramente
azul, como um peixe.
E finalmente
havia aqueles com a Visão, como Kit e seu pai, pessoas comuns com o dom de
enxergar o Mundo das Sombras, de ultrapassar a barreira dos feitiços. Wren era
uma dessas pessoas: uma bruxa autodidata, que pagou um feiticeiro para lhe
treinar em feitiços básicos, mas ela era discreta. Humanos não podiam praticar
magia, mas havia um mercado crescente no ensino dessas artes. Dava para ganhar
um bom dinheiro, desde que você não fosse pego pelos...
— Caçadores
de Sombras — disse Wren.
— Como sabe
que eu estava pensando neles?
— Porque
eles estão bem ali. Dois deles. — Ela apontou com o queixo para a direita, seus
olhos brilhando, alarmados.
Aliás, o
Mercado inteiro estava tenso, pessoas casualmente ocultando suas garrafas e
caixas de venenos e amuletos de cabeças de mortos. Gênios acorrentados se
esconderam atrás dos respectivos mestres. As meninas fadas pararam de dançar e
ficaram olhando para os Caçadores de Sombras, suas faces belas agora frias e
rijas.
Eram dois,
um menino e uma menina, provavelmente de 17 ou 18 anos de idade. O menino era
ruivo, alto e de aparência atlética; Kit não conseguiu ver o rosto da menina,
só o volume de fios louros descendo até a cintura. Ela carregava uma espada
dourada presa às costas e caminhava com o tipo de confiança que não podia ser
forjada.
Ambos
estavam de uniforme, a roupa preta e resistente que os marcava como Nephilim:
parte humanos, parte anjos, os líderes incontestáveis de todas as criaturas
sobrenaturais da Terra. Eles tinham Institutos – semelhantes a imensas
delegacias – em quase todas as grandes cidades do planeta, do Rio a Bagdá, de
Lahore a Los Angeles. A maioria dos Caçadores de Sombras nascia assim, mas eles
também podiam transformar humanos em Caçadores de Sombras se assim desejassem.
Estavam desesperados para repopular seus exércitos, desde que tantos foram
perdidos na Guerra Maligna. Dizia-se que eles sequestravam qualquer um com
menos de 18 anos que apresentasse algum sinal de que poderia ser um Caçador de
Sombras.
Em outras
palavras, qualquer um com o dom da Visão.
— Estão indo
para a barraca do seu pai — sussurrou Wren.
Ela tinha
razão. Kit ficou tenso ao vê-los virando para a fileira de barracas e caminhando
para a que mostrava a placa com os dizeres JOHNNY ROOK.
— Levante-se.
— Wren estava de pé, mandando Kit fazer o mesmo. Ela se abaixou para enrolar a
mercadoria dentro do pano em que estavam sentados, Kit notou um estranho
desenho no dorso da mão dela, um símbolo como linhas de água correndo sob uma
chama. Talvez ela tivesse desenhado em si mesma. — Tenho que ir.
— Por causa
dos Caçadores de Sombras? — perguntou ele surpreso, levantando para que ela
pudesse guardar as coisas.
— Shh —
sibilou ela, e se apressou para longe, os cabelos coloridos balançando.
— Estranho —
murmurou Kit, e voltou para à barraca do pai.
Ele se
aproximou pela lateral, com a cabeça baixa, as mãos nos bolsos, Tinha certeza
de que seu pai gritaria com ele caso se apresentasse na frente dos Caçadores de
Sombras, principalmente ao levar em conta o boato de que eles estavam obrigando
todos os mundanos menores de idade com a Visão a se alistar, mas não conseguia
conter a vontade de xeretar a conversa. A menina loura estava inclinada para a
frente, com os cotovelos sobre o balcão de madeira.
— É um
prazer vê-lo, Rook — falou com um sorriso atraente.
Ela era
bonita, Kit pensou. Mais velha do que ele, e o menino que a acompanhava era
muito mais alto do que ele. E ela era uma Caçadora de Sombras. Por isso era
inalcançavelmente bonita, mas bonita ainda assim. Seus braços estavam
descobertos, e uma cicatriz longa e pálida corria do cotovelo ao pulso.
Tatuagens pretas em formato de símbolos estranhos se entrelaçavam pelos braços,
estampando sua pele. Uma delas aparecia sob o V da gola da camisa. Eram
símbolos, as Marcas mágicas que davam poder aos Caçadores de Sombras. Só eles
podiam usá-las. Se você as desenhasse na pele de uma pessoa normal ou na de um
integrante do Submundo, eles enlouqueceriam.
— E quem é
esse? — perguntou Johnny Rook, apontando com o queixo para o menino Caçador de
Sombras. — O famoso parabatai?
Kit olhou
para a dupla com interesse renovado. Todo mundo que sabia sobre os Nephilim,
sabia o que eram os parabatai. Dois
Caçadores de Sombras que juravam lealdade eterna e platônica um ao outro, e
para sempre lutariam lado a lado. Viveriam e morreriam um pelo outro. Jace
Herondale e Clary Fairchild, os Caçadores de Sombras mais famosos do mundo,
ambos tinham parabatai. Até Kit sabia
disso.
— Não —
entoou a menina, pegando um vidro com um líquido esverdeado perto do caixa. Era
para ser uma poção do amor, apesar de Kit saber que muitos dos vidros continham
água tingida com corante. — Esse aqui não é o tipo de lugar que Julian
frequenta. — Seu olhar percorreu o Mercado.
— Sou
Cameron Ashdown — o menino ruivo Caçador de Sombras estendeu a mão, e Johnny,
parecendo assombrado, apertou. Kit aproveitou a oportunidade para se mover para
trás do balcão. — Sou namorado de
Emma.
A menina
loura – Emma – estremeceu, quase imperceptivelmente. Cameron Ashdown podia ser
seu namorado agora, Kit pensou, mas ele não apostaria na continuação do
relacionamento.
— Hum —
disse Johnny, tirando o vidro da mão de Emma. — Então eu presumo que você
esteja aqui para buscar o que deixou. — Ele pescou o que pareceu um pedaço de
tecido vermelho do bolso. Kit ficou olhando. O que poderia haver de
interessante em um quadrado de algodão?
Emma se esticou.
Agora ela parecia ansiosa.
— Descobriu
alguma coisa?
— Se você o
colocasse na máquina de lavar com suas roupas brancas, definitivamente deixaria
suas meias cor-de-rosa.
Emma pegou de
volta o pano com uma careta.
— Estou
falando sério. Você não imagina quantas pessoas tive que subornar para
conseguir isso. Estava no Labirinto Espiral. É um pedaço da camisa que minha
mãe vestia quando foi assassinada.
Johnny
levantou a mão.
— Eu sei. Só
estava...
— Não seja
sarcástico. Ser sarcástica e espertinha é minha função. Sua função é ser sacudido
até liberar informações.
— Ou pago —
disse Cameron Ashdown. — Também pode ser pago para dar informações.
— Vejam, não
posso ajudar — disse o pai de Kit. — Não tem magia aqui. É só um pedaço de
algodão. Rasgado e cheio de água do mar, mas... algodão.
O ar de
decepção que passou pelo rosto da garota foi vívido e inconfundível. Ela nem
sequer tentou disfarçar, só guardou o tecido no bolso. Kit não pôde deixar de
sentir pena dela, o que o surpreendeu; ele nunca achou que fosse sentir pena de
uma Caçadora de Sombras.
Emma olhou
para ele, quase como se ele tivesse falado.
— Então —
falou, e de repente tinha um brilho nos olhos. — Você tem a Visão, certo, como seu
pai? Quantos anos você tem?
Kit
congelou. O pai foi para a frente dele rapidamente, bloqueando-o da vista de
Emma.
— E cá
estava eu achando que você fosse me perguntar sobre os assassinatos que andam
acontecendo. Atrasada nas informações, Carstairs?
Aparentemente
Wren tinha razão. Kit pensou; todo mundo realmente sabia sobre esses
assassinatos. Deu para perceber pelo tom de alerta na voz do pai que deveria
sumir, mas Kit estava preso atrás do balcão sem, rota de fuga.
— Ouvi
alguns boatos sobre mundanos mortos — disse Emma. A maioria, dos Caçadores de
Sombras utilizava esse termo com grande desprezo para se referir a seres
humanos normais. Emma pareceu apenas cansada. — Não investigamos assassinatos
entre mundanos. Isso é assunto para a polícia.
— Mataram
fadas — disse Johnny. — Vários dos corpos eram de fadas.
— Nós não podemos investigar isso — falou Cameron.
— Você sabe. A Paz Fria proíbe.
Kit ouviu um
murmúrio fraco nas barracas próximas: um barulho que deixou claro que ele não
era o único de ouvido atento na conversa alheia.
A Paz Fria
era a Lei dos Caçadores de Sombras. Fora instituída há quase cinco anos. Ele
mal se lembrava de um tempo anterior a ela. Eles a chamavam de Lei, pelo menos.
Na verdade, era uma punição.
Quando Kit
tinha 10 anos, uma guerra abalou o mundo dos integrantes do Submundo e dos
Caçadores de Sombras. Um Caçador de Sombras, Sebastian Morgenstern, se voltou
contra a própria espécie: foi de Instituto em Instituto, destruindo os
ocupantes, controlando seus corpos e os forçando lutar por ele como um exército
de escravos mudos e submissos. A maioria dos Caçadores de Sombras do Instituto
de Los Angeles foi levada ou morta.
Kit tinha
pesadelos algumas vezes, envolvendo sangue correndo por corredores que ele
jamais vira, corredores pintados com símbolos dos Nephilim.
Sebastian
teve ajuda do Povo das Fadas em sua tentativa de destruir os Caçadores de
Sombras. Kit tinha aprendido sobre fadas na escola: criaturinhas fofas que
viviam em árvores e usavam chapéus de flores. O Povo das Fadas não era nada
disso. Eram sereias, duendes, kelpies, com dentes de tubarões, e fadas nobres,
aquelas que tinham alta patente nas cortes das fadas. Fadas nobres eram altas,
lindas e aterrorizantes. Dividiam-se em duas cortes: a Corte Seelie, um lugar
perigoso, governado por uma rainha que ninguém via há anos, e a Corte Unseelie,
um local sombrio, de traição e magia negra, cujo rei era como um monstro mitológico.
Como as
fadas eram do Submundo e juraram aliança e lealdade aos Caçadores de Sombras, a
traição foi um crime imperdoável. Os Caçadores de Sombras as puniram
pesadamente com uma ação decisiva que passou a ser conhecida como Paz Fria:
forçaram-nas a pagar indenizações altíssimas para reconstruir os edifícios dos
Caçadores de Sombras que foram destruídos, despojando-as de seus exércitos, e
instruindo outros integrantes do Submundo a jamais as auxiliarem. O castigo por
ajudar uma fada era severo.
Fadas eram
um povo antigo, mágico e orgulhoso, ou, pelo menos, era o que diziam. Kit
jamais os tinha conhecido de outro jeito que não fosse aquele, alquebrado. A
maioria dos outros habitantes do Submundo e outros demônios do espaço sombrio
entre o mundo mundano e o dos Caçadores de Sombras não desgostava das fadas nem
lhes guardava mágoa. Mas nenhum deles se dispunha a enfrentar os Caçadores de
Sombras. Vampiros, lobisomens e feiticeiros ficavam longe das fadas, exceto em
lugares como o Mercado das Sombras, onde o dinheiro valia mais que as leis.
— Sério? —
perguntou Johnny. — E se eu dissesse que os corpos encontrados estavam cobertos
de letras?
Emma
levantou a cabeça. Ela tinha olhos castanho-escuros, quase negros, surpreendentes
contra o cabelo claro.
— O que você
disse?
— Você
ouviu.
— Que tipo
de escrita? A mesma língua encontrada nos corpos dos meus pais?
— Não sei —
respondeu Johnny. — Foi o que ouvi. Mesmo assim, parece suspeito, não?
— Emma —
disse Cameron em tom de alerta. — A Clave não vai gostar.
A Clave era
o governo dos Caçadores de Sombras. Pela experiência de Kit, eles não gostavam
de nada.
— Não me
importo — retrucou a menina. Era evidente que ela já havia se esquecido de Kit;
encarava o pai dele, com os olhos ardendo. — Diga-me o que se sabe. Pago duzentos.
— Tudo bem,
mas não sei muita coisa — disse Johnny. — Alguém é levado e, algumas noites
depois, aparece morto.
— E quando
foi a última vez que alguém “foi levado”? — perguntou Cameron.
— Duas
noites atrás — respondeu Johnny, e era evidente que ele achava que merecia seu
pagamento. — Provavelmente vão desovar o corpo amanhã à noite. Basta aparecerem
e pegarem quem o estiver descartando.
— Então por
que não nos diz como fazer isso? — perguntou Emma.
Johnny
bufou.
— Dizem por
aí que a próxima desova será em West Hollywood. No Bar Sepulcro.
Emma bateu
palmas, animada. O namorado chamou o nome dela outra vez, em tom de alerta, mas
Kit poderia ter dito a ele que era perda de tempo. Ele nunca tinha visto uma
adolescente tão animada assim com nada – nem com atores famosos, nem com boy
bands, nem joias. Essa menina estava praticamente vibrando com a ideia de um
cadáver.
— Por que
você não vai atrás se está tão perturbado com essas mortes? — Cameron perguntou.
Ele tinha belos olhos verdes, Kit pensou.
Formavam um casal ridiculamente atraente. Era quase irritante. Ficou imaginando
como seria o misterioso Julian. Se ele tinha jurado ser o melhor amigo
platônico desta menina para o resto da vida, provavelmente era o cão chupando
manga.
— Porque não
quero — disse Johnny. — Parece perigoso. Mas vocês adoram o perigo. Não é
mesmo, Emma?
Emma sorriu.
Ocorreu a Kit que Johnny conhecia Emma muito bem. Eia já devia ter vindo aqui
antes para fazer perguntas – era estranho que fosse a primeira vez que a via,
mas ele não vinha ao mercado todos os dias. Enquanto ela enfiava a mão no
bolso, pegava um rolo de notas e o entregava a seu pai, ele ficou imaginando se
Emma já teria estado em sua casa. Sempre que clientes iam à sua casa, o pai o
mandava para o porão e ordenava que ficasse lá, sem emitir qualquer ruído.
“O tipo de
gente com quem lido não é o tipo de gente que você deve conhecer”, ele sempre
dizia. Uma vez Kit subiu acidentalmente enquanto o pai se reunia com um grupo
de monstros vestidos com túnicas e capuzes. Pelo menos, Kit achou que pareciam
monstros: os olhos e lábios eram costurados, as cabeças carecas, brilhantes.
Seu pai lhe disse que eles eram Gregori, Irmãos do Silêncio: Caçadores de
Sombras que foram cicatrizados e torturados por magia até se tornarem algo mais
que humanos; falavam telepaticamente e conseguiam ler as mentes de outras
pessoas.
Kit nunca
mais subiu durante as “reuniões” de seu pai. O menino sabia que o pai era um
criminoso. Sabia que ele vivia de contar segredos, mas não mentiras: Johnny se
orgulhava de ter boas informações. Kit sabia que a própria vida provavelmente
seguiria o mesmo caminho. Era difícil ter uma vida normal quando você
constantemente fingia não enxergar o que se passava diante dos seus olhos.
— Bem,
obrigada pela informação — disse Emma, começando a dar as costas para a
barraca.
O cabo
dourado da espada brilhou na iluminação das barracas do Mercado. Kit ficou imaginando como seria a vida
de um Nephilim. Viver entre pessoas que enxergavam as mesmas coisas que você:
jamais temer o que espreitava pelas sombras.
— Nos vemos
por aí, Johnny.
Ela deu uma
piscadela – para Kit. Johnny se virou e encarou o menino enquanto ela
desaparecia pela multidão com o namorado.
— Disse
alguma coisa para ela? — Quis saber Johnny. — Por que ela olhou desse jeito
para você?
Kit levantou
as mãos defensivamente.
— Eu não
disse nada — protestou. — Acho que ela percebeu que eu estava ouvindo.
Johnny
suspirou.
— Tente ser
menos notado.
O Mercado
estava se agitando outra vez agora que os Caçadores de Sombras tinham se
retirado. Kit pôde ouvir a música e um burburinho de vozes se elevando.
— Quão bem
você conhece essa Caçadora de Sombras?
— Emma
Carstairs? Ela me procura há anos para obter coisas. Não parece se importar
muito em violar as regras dos Nephilim. Gosto dela, até onde é possível gostar
de um deles.
— Ela queria
que você descobrisse quem matou os pais dela.
Johnny abriu
uma gaveta.
— Não sei
quem matou os pais dela, Kit. Provavelmente fadas. Foi durante a Guerra
Maligna. — Ele soou arrogante. — Então eu quis ajudá-la. E daí? Dinheiro de
Caçadores de Sombras vale tanto quanto qualquer outro.
— E você
quer que os Caçadores de Sombras prestem atenção em algo além de você — disse
Kit. Era um palpite, mas ele supunha que fosse um bom palpite. — Está fazendo
alguma coisa?
Johnny
fechou a gaveta.
— Talvez.
— Para
alguém que vende segredos, você certamente guarda muitos — falou Kit, enfiando
as mãos nos bolsos.
O pai
colocou um braço em volta dele, um raro gesto de afeição.
— Meu maior
segredo — declarou — é você.
Obg Karina eu estava muito ansiosa para ler esse livro
ResponderExcluir<3
Filha de apolo
Primeira a comentar!!!!!!! Todo santo dia venho aqui e hj me deparo com isso. Ai, meu Raziel, vou desmaiar, tava querendo mt ler Dama da Meia Noite! Obrigado Karina, obrigado pessoas que ajudam a Karina,obrigado a todo mundo! Tá parei, tou eufórica até demais huhuheuehueheu
ResponderExcluirMDS VC POSTOU!!!!!! KARINA ANTES DE LER EU QUERIA SABER SE, TEM QUE TERMINAR A SERIE INSTRUMENTOS MORTAIS PARA PODER LER ESSA?
ResponderExcluirPFAVORR RESPONDI LOGO!!!!!!!!!! AH SUA ESPERA ('_')
Se vc pretende ler Instrumentos Mortais ou As Peças Infernais, sim, leia antes, senão receberá spoiler. Ou se quiser ler este e ignorar as séries anteriores, perdendo as referências...
ExcluirOh my God! Ai meus Zeus! Pelo Anjo! Finalmente depois de anos de espera! Espero que seja tão bom quanto os outros. Só de ver o nome de outros personagens sendo citados como se fossem celebridades, é emocionante!!! Lá estava eu casualmente verificando o blog, quando me deparo com o meu mais esperado livro. Acho que meu coração parou por uns 3 segundos antes de eu surtar!
ResponderExcluirkkkkkkkkk né! É engraçado ver Clary e Jace famosos. Na minha cabeça, eles eram famosos só pra mim eaheuahuehae
ExcluirEu to morrendo, que livro maravilhoso
ResponderExcluirTava looooooouca pra ler
ResponderExcluirPelo Anjo, acho que eu te amo Karina!!! Estava surtando para ler esse livro!!!!!
ResponderExcluirTava louco pra ler!!! Amei as referências ao Brasil e a minha feiticeira azul favorita! Muito obrigado Karina!!
ResponderExcluirPelo Anjo, estava louca ja querendo leeer! Karina mto obg, vc é a melhooor!!!
ResponderExcluirEu estava terminando de ler Rainha das sombras, quando vejo na lista da series "Os Artificios das Trevas", que eu estava subindo pelas paredes de tanta ansiedade. Primeiro eu gritei muito depois fui ler. Ja to amando. Obrogado Karina por tornar minha vida mais feliz postando esses livros que ante eram meio que inalcansáveis.
ResponderExcluirkkkkkkk de nada :) espero que esteja gostando do livro!
ExcluirMds eles são famosos e pra mim isso mexeu com meu emocional.Eu tava olhando os livros né e achei isso aí vi a palavra "Parabatai" eu surtei geral e comecei a ler agora msm e se der termino esse livro rapidinho.Obrigadoo!
ResponderExcluirOs Carstairs!!!! Amo eles... bem eu amo o James, ele aparece em todos os livros... espero que apareça nesse tbm!!! Ai um encontro com Emma e o James!!!! Morrendo para ler, amo o que a Cassandra faz de juntar as historias. E amo você Karina, eu li todos os livros dela por aqui!!!
ResponderExcluirOoii, já amando *-*
ResponderExcluir#help Faz tempo que li Os Instrumentos Mortais, não lembro quem é o Parabatai da Clary, quem é? :o
Simon! Mas não chega a mostras em Instrumentos Mortais, é nos Contos da Academia dos Caçadores de Sombras
Excluireu n consegui ignorar mais esse livro deixei 3 de lado. antes isso do q n lembrar a história de nenhum.
ResponderExcluireu estou escrevendo mm pra te dizer que você não colocou um espaço. Vou colar o parágrafo pra você localizar mais rápido :
O cabo dourado da espada brilhou à ''liado'' sol. Kit ficou imaginando como seria a vida de um Nephilim. Viver entre pessoas que enxergavam as mesmas coisas que você: jamais temer o que espreitava pelas sombras. N SERIA ''LUZ DO SOL'' ? OBR POS POSTAR ESSE LIVRO KARINA O FATO DE EU TER TENTADO ENROLAR ALEIT N É TÃO VERDADE ASSIM, ESTOU ESPERANDO ESSE LIVRO DESDE O ANO PASSADO FUI OBG gis_loveVA
"um garoto alto, com cabelos pretos e uma mecha branca e uma garota morena com óculos escuros" huahuahu obviamente Jem e Tessa
ResponderExcluirO interessante é eles darem um rolê ali e a Emma dar as caras depois
Nossa, eu já li três vezes e nunca tinha percebido que eles eram o Jem e a Tessa '-'
ExcluirEu pensei que pudesse ser eles 😍 meu casal favorito de todos os tempos .
ExcluirSimmm!!! Tbm percebi isso!! O q será q eles estavam fazendo lá?! 🌚
ExcluirNão era a Tessa e o Jem... o casal que apareceu eram licantropos... a mulher até escolha um anel com a pedra da lua...
ResponderExcluir"um homem corpulento e uma mulher de cabelos castanhos que desciam pelas costas num rabo de cavalo torcido.
Excluir— Amuletos de proteção? — perguntou Wren, num tom encantador. — Proteção garantida. Também tenho ouro e bronze, além de prata."- licantropos (esses pararam para comprar)
"— Eu sou seu encantamento de flerte desavergonhado. — Ele sorriu para duas pessoas que estavam passando: um menino alto e bonito, com uma mecha branca no cabelo escuro, e uma menina morena cujos olhos estavam cobertos por óculos escuros.
Eles o ignoraram."- Jem e Tessa (que estavam passando por ali, passaram direto e nem olharam para o Kit, em momento nenhum disseram que esses dois eram licantropes. Jem e Tessa estão fazendo algo ali certeza)
Já estou amando♡♡obrigada Karina♡♡
ResponderExcluirNOSSA...... ;-;
ResponderExcluirO Kit acha que o Jules deve ser um cão chupando manga, ai ai... espera pra ver.
ResponderExcluirSó eu to imaginando q o Kit é o Herondale perdido??? Eu li os contos da academia dos Caçadores de Sombras, por isso to falando...
ResponderExcluirPois é, né, fica meio na cara quando se acompanha notícias do mundo Shadowhunter. Quer dizer, há um Herondale perdido. E aparece um garoto que não é Caçador de Sombras? Também pensei o mesmo. Só esperar pra ver se aparecem mais mundanos, ou se Kit entra de vez na história
Excluir— Eu sou seu encantamento de flerte desavergonhado. — Ele sorriu para duas pessoas que estavam passando: um menino alto e bonito, com uma mecha branca no cabelo escuro, e uma menina morena cujos olhos estavam cobertos por óculos escuros.
ResponderExcluirSerá q essas pessoas é jem e tessa?????
Tbm acho que Kit é o Herondale perdido. ... o pai dele sabe fazer poções e o filho de Tobias foi criado por uma feiticeira, acho coincidência demais!
ResponderExcluirFlavia
Pobre Julian!!! :(
ResponderExcluirQue lega!!!
ResponderExcluirFinalmente TDA
Artifícios das Trevas
Gente quem é o Parabatai da Clary?
ResponderExcluiro Saimon
ExcluirSimon!
ExcluirSim sim sim
ExcluirLi lá na frente.
Que amor♡♡♡♡
Ops Simon*
ExcluirLá vem charada!
ResponderExcluirqual será esse segredo?
algo me diz que esse garoto vai entrar na turma...e será um caçador das sombras
A Emma podia pedir ajuda para a Tessa, pq ela pode se transformar e saber quem matou
ResponderExcluirPelo Anjo Razil, ja estou amano <3
ResponderExcluirTia Cassandra e show sempre juntando as historias.
"um menino alto e bonito, com uma mecha branca no cabelo escuro, e uma menina morena cujos olhos estavam cobertos por óculos escuros."
Jem e Tessa <3 Clary e Jace <3
"O cabo dourado da espada brilhou à luz do sol."
ResponderExcluirMas não era noite? 😂
Nossa, sim. Procurei o texto em inglês e corrigir, agora tá certo! ehauehauehu
ExcluirTava tão ansiosa pra ler!!! Depois q acabei os Contos Da Academia Dos Caçadores De Sombras corri pra esse
ResponderExcluir"Deve ser o cão chupando manga" 😂😂 sabe de nada inocente
Gnnttt como assim a Emma tá namorando?!!! Nooooooo
Tenho quase certeza q o Kit deve ser o Herondale perdido, pq o pai dele sabe fazer magia, mais ou menos.. Pq foi a Catarina q criou a criança, ela deve ter ensinado uns truques🌚
Q estranho pensar no Jace e Clary como mundialmente famosos
Peraí. Já começou" meu maior segredo é você." pelo anjo e quando que a clary tem um Parabatai
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